Presidente da CPI foi líder de Nelsinho na Câmara, relatora é presidente municipal do PMDB e terceiro integrante é afilhado político de Marquinhos Trad.

Na primeira reunião, realizada para escolher presidente e relator, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar irregularidades no Hospital do Câncer e Hospital Universitário já deu mostras de que pouco poderá contribuir para apurar o descaso com o dinheiro público e a vida das pessoas, pelo menos do que diz respeito a possível responsabilidade do ex-prefeito (PMDB) e seus secretários.

Com maioria na comissão, aliados de Nelsinho elegeram o ex-líder dele na Câmara, Flávio César (PTdoB), presidente, e afilhada de André Puccinelli (PMDB) e presidente municipal do PMDB, Carla Stephanini, relatora. Para dominar a comissão eles contaram com a colaboração do vereador Coringa (PSD) eles não tiveram coragem de abrir espaço para a base do prefeito Alcides Bernal (PP), boicotando Cazuza (PP) e Alex do PT da relatoria.

A blindagem levanta questionamentos sobre a seriedade da CPI. Ex-líder de Nelsinho, Flávio César tem vários laços com os envolvidos no setor de saúde de . Ele é, por exemplo, do mesmo partido de Otávio Trad (PTdoB), filho do ex-secretário de Saúde e cunhado de Nelsinho, .

O problema é ainda pior se analisar o conjunto da CPI. Dos cinco integrantes, três (Carla, Coringa e Flávio), derrubaram a CPI por duas vezes e os outros dois pouco podem contribuir, já que serão voto vencido, à exemplo, se quiserem convocar Nelsinho ou os ex-secretários. O vereador Coringa, embora se declare independente, tem ligações com a família do ex-prefeito. Ele é afilhado político do irmão de Nelsinho, deputado Marquinhos Trad (PMDB).

O grupo que agora manda na CPI foi responsável, por exemplo, por restringir a atuação dela. A pedido do grupo do PMDB, Flávio César apresentou um requerimento e conseguiu derrubar a solicitação de Luiza Ribeiro (MD), que propôs uma CPI ampla da saúde em Campo Grande.

Os desmandos do grupo do ex-prefeito já foram observados na própria formação da comissão, quando os vereadores, liderados pelo presidente, Mário César (PMDB), barraram a participação de Luiza Ribeiro. O grupo de Nelsinho ficou revoltado quando a vereadora propôs a CPI e eles rejeitaram, sendo apontados pela sociedade como os vilões da saúde em Campo Grande.

O troco não demorou. Com maioria na Casa, o presidente Mário César liderou o boicote a vereadora. O PT até tentou salvar a CPI, lutando para incluir Luiza na comissão, mas o presidente que sempre promete acordo utilizou-se de uma interpretação do regimento para impedi-la.

Com tantas blindagens, a primeira CPI montada na Câmara de Campo Grande mal começou a andar e já caminha para ter resultados mais pífios que as outras duas derrubadas por André Puccinelli na Casa, antes de nascer.

A primeira tentativa de abrir uma CPI aconteceu nos primeiros anos da administração de André Puccinelli em Campo Grande, no escândalo conhecido como “Lixogate”, que envolvia o empresário Moreno Gori. O empresário foi acusado pelo Ministério Público Federal de falsificar carteiras de identidade. Os documentos foram usados para montar a empresa que ficaria encarregada pela coleta e transformação do lixo em energia em Campo Grande, na administração de Puccinelli.

Segundo o Ministério Público Federal, o empresário italiano prometeu investir US$ 128 milhões para tocar o serviço. O então líder de Puccinelli, Athayde Nery (MD), avisou que os vereadores estavam dispostos a abrir a CPI e aconselhou o prefeito a cancelar a licitação.

Acompanhado do então vereador Nelson Trad Filho (PMDB), em 1998 Athayde também tentou fazer a CPI da Santa Casa. Ele chegou a ter as sete assinaturas necessárias para investigar irregularidades no hospital, mas vereadores da base de Puccinelli acabaram retirando as assinaturas.