A cervejaria paraense Cerpa é um caso sui generis. A empresa foi fundada em 1966, quando o imigrante alemão Konrad Karl Seibel chegou a Belém e achou que a água da região era ideal para fabricar cerveja nos trópicos. Deu certo. Foi uma cervejaria regional de sucesso por décadas — sua participação de mercado no Pará chegou a 65% em 2003 e, muito antes do avanço das cervejas artesanais, ganhou certo público no Sudeste entre os consumidores que queriam fugir das Brahmas e Antarcticas da vida.
Mas, na década seguinte, a cervejaria paraense entrou numa bizarra espiral de problemas que lhe custaram caro. Hoje, sua participação no Pará não passa de 12%. Poderia ser apenas uma história de empresa que errou a mão e perdeu o bonde — na última década, uma onda de consolidação fez com que as cervejarias regionais fossem compradas em negócios milionários, e a Cerpa ficou de fora, minada por problemas familiares que beiram o surreal.
Desde 2008, o dono da empresa sumiu. Seibel, o fundador, morreu em 2012, quatro anos após deixar o Brasil rumo à Alemanha para um tratamento de saúde. Sua saída deixou a empresa no escuro — a falta de informação a respeito do dono é tanta que executivos e advogados ligados à empresa afirmam que Seibel está vivo e administrando uma fábrica de cimento no interior da Alemanha. (O cartório da cidade alemã de Traunstein informou a EXAME que há um atestado de óbito de Seibel.
Na verdade, quem administra a empresa alemã é sua filha, Silvia Seibel. A Cerpa, por sua vez, continua sem controlador. A história lembra o hiato que precedeu a posse de dom Pedro II, em 1841. Ele esperou uma década da abdicação do pai até assumir o poder, aos 14 anos, na “maioridade”. O único herdeiro da Cerpa, Konrad Franz Seibel, atualmente tem 20 anos e também não pode ocupar o “trono”. De acordo com o testamento do pai, ele só poderá assumir ao completar 24 anos ou terminar a faculdade — ele cursa economia em Londres.
A última cartada
Enquanto isso, quem administra o dia a dia é sua mãe, Helga Irmengard Jutta — a regente, para seguir na comparação histórica. Helga teve de brigar na Justiça pelo direito de tocar a Cerpa enquanto seu filho não cumpre os pré-requisitos previstos no estatuto. Em 2003, em meio a um processo de divórcio, Karl ficou doente e teve de se afastar do cotidiano empresa. Mas não concordou em passar o bastão para a esposa.