O segundo dia do júri do caso Eliza Samudio, realizado em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte), foi marcado pela substituição de um dos advogados do goleiro Bruno Fernandes e terminou com um momento de intimidade entre o ex-jogador e sua atual namorada Ingrid Oliveira.

Ao final da sessão, ela se dirigiu até Bruno, o abraçou e começou a acariciar seu cabelo. O goleiro devolveu o afeto, passando a mão nos cabelos da companheira. Em seguida, deram-se um beijo contido. A cena durou menos de dois minutos.

Atrás de Bruno, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, ganhou um abraço da avó também ao final da sessão. A juíza Marixa Fabiane autorizou o afeto, após pedido dela.

Choro

A sessão de hoje foi marcada também pelo choro de Dayanne de Souza , ex-mulher do jogador, e Fernanda de Castro, ex-amante do goleiro, ambas acusadas de participação no desaparecimento de Eliza Samudio.

Fernanda chorou durante o depoimento do detento Jaílson Alves de Olveira, que disse à Justiça, em abril de 2011, que Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, tinha um plano para matar várias autoridades ligadas à investigação do caso Eliza Samudio.

Enquanto chorava, a ex-amante de Bruno escondeu o rosto apoiada no encosto de uma cadeira á sua frente. Ela chegou a se retirar do plenário durante os momentos de choro.

Já Dayanne chorou durante um bom tempo pela manhã, no momento em que Bruno pediu a destituição do advogado Rui Pimenta, o que gerou o desmembramento do julgamento dela.

Bruno dispensa advogado

Além de Pimenta, que se declarou surpreso com a destituição, Bruno tentou dispensar seu outro advogado, Francisco Simim. A juíza Marixa Fabiane, porém, avaliou que a manobra era uma tentativa para adiar o júri e aceitou apenas a dispensa de Pimenta. Logo no começo da sessão de hoje, Bruno pediu uma reunião com seus advogados e os defensores de Dayanne de Souza, sua ex-mulher, e Fernanda Castro, sua ex-namorada, que também são rés no processo. Após o encontro, que durou cerca de 10 minutos, Bruno disse à juíza que destituiu o advogado Rui Pimenta por insegurança. “Por me sentir inseguro, estou destituindo o senhor Rui”, afirmou o ex-goleiro. “Peço a senhora que me dê um prazo para que eu escolha outro advogado”, acrescentou Bruno.

Em seguida, a magistrada afirmou que não poderia dar um prazo porque o goleiro já está sendo defendido por outro advogado, Francisco Simim, que também defendia Dayanne. Bruno aceitou seguir no julgamento, mas minutos depois tentou destituiu Simim com o argumento de que não queria prejudicar a defesa de sua ex-mulher ao dividir com ela o mesmo advogado.

“Não entendi por que o senhor está destituindo, depois de claramente manter a defesa. Me parece uma tentativa de postergar o julgamento”, afirmou Marixa.

A juíza, então, atendeu a um pedido do promotor Henry Castro e decidiu desmembrar o julgamento de Dayanne, de modo que Simim passasse a defender apenas Bruno neste júri. Com isso, ela será julgada em outra data.

O argumento da promotoria foi o de que Dayanne responde ao processo em liberdade e a prioridade seria julgar os réus presos, como Bruno. Simim chegou a dizer que preparou a defesa de Dayanne e gostaria de realizá-la naquele momento, mas a juíza negou o pedido.

Agora, Dayanne será julgada em outra data, junto com Bola. Já Bruno escolheu um novo advogado, Tiago Lenoir, que ontem, no Twitter, comentou que o goleiro deveria confessar a autoria do homicídio e negar. Após a afirmação repercutir na imprensa, ele afirmou, ao final da sessão de hoje, que ele estava comentando o caso como uma pessoa comum e que falava de uma situação hipotética.

Testemunhas

A sessão teve início pouco depois de 9h, com a juíza Marixa Fabiane aplicando uma multa de R$ 18,7 mil para os três advogados de Bola, que ontem abandonaram o júri. São eles Ercio Quaresma, Zanone de Olveira Júnior e Fernando Magalhães. A magistrada considerou que faltou ética dos defensores.

O primeiro depoimento do dia foi de João Batista Guimarães, o ex-caseiro do sítio em Esmeraldas (MG), onde Eliza pode ter sido morta. Ele contradisse a versão de Cleiton Gonçalves, amigo e ex-motorista de Bruno, que ontem declarou ter afirmado sobre a morte de Eliza por estar sob pressão da polícia.

“Foi muito tranquilo”, disse. “Ele [Cleiton] estava à vontade”, acrescentou a testemunha, negando que Cleiton tenha sido ameaçado pelos policiais durante o interrogatório. Hoje, entretanto, ele disse que fez a afirmação porque estava “doidão”.

O segundo depoimento foi da delegada Ana Maria Santos, que participou das investigações do caso. Em quase três horas, ela afirmou que Jorge Rosa, primo do goleiro Bruno, se emocionou ao narrar como Eliza Samudio foi morta. Menor de idade à época dos fatos, Rosa confessou pelo menos em dois depoimentos, à Polícia Civil e à Justiça, ter participado da morte de Eliza, a qual descreveu com detalhes.

Dias depois, ele voltou atrás e negou o que tinha relatado. Afirmou, na época, ter feito a confissão sob pressão. Questionada hoje pelo promotor Henry Castro, a delegada, que participava das investigações do caso e colheu o depoimento de Rosa em junho de 2010, disse que a versão narrada por ele tinha “bastante credibilidade”.

“Sem dúvida nenhuma [tinha credibilidade]. Pela riqueza de detalhes, pelo tanto que ele se emocionou ao fazer a narrativa. Aquilo, inclusive, nos atingiu durante o depoimento”, disse. “Me passou bastante credibilidade.”

O terceiro e último depoimento foi do detento Jaílson Alves de Oliveira, que afirmou à Justiça que Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, tinha um plano para matar várias autoridades ligadas ao caso Eliza Samudio, disse no Tribunal do Júri, nesta terça-feira (20), ter sido ameaçado pelo goleiro Bruno Fernandes no último dia 13, no presídio Nelson Hungria.

Jaílson está recolhido na enfermaria da penitenciária, isolado de outros presos por razões de segurança. A ameaça, diz ele, ocorreu durante um banho do sol. “Tinha um agente escoltando o Bruno. Ele virou e disse: ‘o Jaílson, o que é seu tá guardado. Você não sabe com quem se meteu. Seus dias estão contados’”, relatou.

Na sequência Jaílson, se dirigiu a Bruno. “Foi ele ali. Falo na cara dele. Fala agora, Bruno?”. O ex-goleiro retrucou: “Nem te conheço, parceiro”. Conforme a testemunha relatava a suposta ameaça, Bruno mexia a cabeça em sinal de negação.

A testemunha afirmou ainda que Bola disse que o plano era matar o filho de Bruno e Eliza, mas Dayanne intercedeu e levou a criança para uma mulher que morava em Ribeirão das Neves.

Ao final da sessão, o promotor Henry Castro pediu o afastamento de cinco ou seis testemunhas do caso flagradas usando celular no hotel em que estão hospedadas, o que é proibido. O pedido será apreciado amanhã pela juíza.

Quarta-feira

Amanhã, além da apreciação, o julgamento terá o depoimento de testemunhas arroladas pela defesa. Cada réu tem direito a usar cinco testemunhas.