As verdadeiras penas coloridas dos indígenas da Amazônia substituíram as artificiais do Carnaval no Sambódromo do Rio, transformado em hotel improvisado para ativistas e índios que participam na Cúpula dos Povos à margem da conferência Rio+20.

Habitualmente invadido por luxuosos carros alegóricos e milhares de integrantes das Escolas de Samba, a extensa pista cercada por grades do sambódromo, construído pelo arquiteto Oscar Niemeyer, fica praticamente vazia pelas manhãs, embora seja possível ver as barracas de campanha e os camarotes – normalmente reservados aos artistas e personalidades das mais diversas área – transformados em dormitórios comunitários.

“Não se pode entrar, isso agora é propriedade privada”, explica à AFP Edson Souza, um voluntário que diz cumprir ordens dos organizadores.

Segundo ele, 2.600 indígenas e militantes de movimentos sociais como a Via Campesina ou o Movimento de Reciclagem de Lixo já se encontram no sambódromo, onde deverão dormir cerca de 10.000 pessoas durante os dez dias de conferência.

“A comodidade é mínima e não há nada para comer”, queixa-se Antonio Regivaldo, de 32 anos, da União Popular por uma Moradia.

Os grupos costumam comer alguma em um bar próximo.

“Está mal organizado. Deveriam nos dar café da manhã, mas, como sempre, os que têm menos são esquecido”, reclama o cacique Sandro Potiguara, que, como toda sua tribo potiguara, veste uma longa saia de palha.

Um total de 48 indígenas potiguara chegou ao Rio na sexta-feira vindo do estado da Paraíba, depois de 50 horas de viagem em um ônibus, “para encontrar soluções para salvar o planeta e mostrar seu saber tradicional”.

Deixando o sambódromo, devem enfrentar uma nova aventura ao pegar o metrô para chegar ao Parque do Flamengo, onde transcorrem mais de 600 atividades organizadas pela sociedade civil de todo o mundo dentro da Conferência da ONU Rio+20.

Os indígenas não pagam o metrô graças a um bracelete que foi entregue pela prefeitura, mas a dificuldade começa quando devem usar a escada rolante. Muitos, principalmente as mulheres, optam pelas escadas normais.

Diante dos novos , muitos passageiros incrédulos chegam a perguntar se por acaso é um carnaval fora de época.

“São indígenas de verdade?”, duvida Jessica, de 21 anos, que diz jamais ter visto um índio tão de perto.