A proliferação descontrolada de moscas de estábulo em propriedades rurais vizinhas às plantações de cana da Usina Santa Luzia, em Nova Alvorada do Sul, levou ao local, nesta quinta-feira (22), os deputados estaduais Márcio Monteiro (presidente), Felipe Orro (vice-presidente) e Laerte Tetila (membro), da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa. Eles foram verificar ‘in loco’ denúncias feitas por produtores e pelo Sindicato Rural de Nova Alvorada do Sul, ouvir as pessoas afetadas e propor medidas a fim de acabar com o problema.

A mosca de estábulo é muito parecida com a mosca doméstica, com a diferença de que se alimenta do sangue de animais. Em Nova Alvorada do Sul o inseto ataca, sobretudo, o rebanho bovino, mas até animais domésticos como cães e gatos são vítimas. “Os cavalos entram em desespero, o gado se embola todo, tentando se proteger do ataque das moscas, já perdi 60 cabeças, entre adultos e bezerros, de julho pra cá”, afirma a proprietária da fazenda Velha Recordação Ruth Nair Nogueira Barbosa.

Em tom emocionado e demonstrando descrença quanto ao controle da praga, a fazendeira narrou aos deputados o suplício por que passa há dois anos, sempre nos meses de colheita da cana. “Fechei meu apartamento na cidade e voltei pra fazenda por recomendação médica, me curei da depressão aqui. Até que começou esse inferno. Tem dias que é insustentável, as paredes ficam pretas de moscas. Estou toda marcada de ferroadas. Os animais sofrem porque não têm sossego, não conseguem parar pra comer, ficam se abanando o tempo todo, estressados. As vacas abortam ou quando nasce um bezerrinho, morre logo. Eu sofro porque para mim é como se nascesse uma criança, quero bem, cuido dos animais como filhos e me dói muito ver o desespero deles e não poder ajudar”.

Vinhoto e bagaço

A proliferação descontrolada da mosca de estábulo tem duas causas básicas, garante o presidente do Sindicato Rural de Nova Alvorada do Sul, Milton Barbosa: o acúmulo de vinhoto nos pontos em que há vazamento nos canos que conduzem o líquido e a camada da palha da cana em decomposição na lavoura. Barbosa levou os deputados a locais em que o vinhoto escapa da tubulação formando lamaçais, que servem de criadouro para as larvas e alimento das moscas adultas.

O vinhoto é o subproduto do açúcar e do álcool, um líquido viscoso e escuro, de odor forte, que pode ser utilizado como fertilizante na lavoura desde que aplicado em proporções adequadas. Conforme o deputado Laerte Tetila, se despejado em demasia no solo, o vinhoto pode contaminar o lençol freático e desencadear o processo de desertificação do solo, que é a degradação no estágio mais elevado.

A ligação da mosca com o vinhoto é patente, afirma Barbosa. O inseto aparece em grande quantidade tão logo começa a colheita da cana, e vai desaparecendo gradativamente na medida em que cessam os trabalhos da safra.

Outra fonte de nutrientes do inseto é a massa decomposta da palha da cana. “A palha forma uma camada espessa. Na superfície está seca, mas por baixo, em contato com a terra, vai se decompondo e serve de alimento para a mosca”, explica. Isso não é comum nas plantações de cana onde há o controle correto tanto da distribuição do vinhoto quanto da palha, afirma Barbosa. “Já teve casos em outros locais, mas logo foram tomadas as medidas necessárias e o problema acabou. Aqui está complicado porque a usina não reconhece a responsabilidade”, disse.

Vários contatos com os diretores da usina foram tentados, porém todos resultaram em fracasso, asseguram os produtores rurais. Eles pedem aos deputados que façam a intermediação com os diretores da usina para sanar rapidamente o problema, enquanto em outra frente vão pleitear na Justiça a reparação pelos danos materiais sofridos.

Audiência e projeto

Os deputados explicaram aos produtores rurais a estratégia que será adotada para enfrentar o problema. “Vamos convocar uma audiência pública para os próximos dias, ouvir as autoridades ambientais, saber se as medidas necessárias para proteger o meio ambiente estão sendo adotadas pela usina, ouvir os diretores da usina sobre as denúncias apresentadas e com esses subsídios, elaborar um projeto para disciplinar o plantio da cana e a produção de açúcar e álcool em âmbito estadual”, explicou o presidente da Comissão do Meio Ambiente, Márcio Monteiro.

“Podemos assegurar que vai haver uma solução, a Assembleia vai intermediar essa solução, temos mecanismos para isso. Sei que alguns produtores já estão descrentes, mas peço que confiem na Comissão do Meio Ambiente, somos deputados com conhecimento na área, quase todos produtores rurais, sabemos da responsabilidade e deveres de cada ente da sociedade para garantir uma convivência harmônica e uma vida sustentável”, completou Felipe Orro.