A intenção é mostrar que as brincadeiras criam crianças com imaginação criativa e adultos mais seguros

O projeto Memórias do Futuro está pesquisando as brincadeiras das crianças sul-mato-grossenses para fazer um levantamento do que foi perdido ou adaptado, pelas gerações. Essa semana, 21 jovens, entre 12 e 20 anos estão participando das oficinas em Campo Grande, no Espaço Imaginário. Posteriormente, eles voltarão para suas comunidades com o trabalho de entrevistar avós, pais, amigos e conhecidos, e criar vídeos com as informações coletadas.

Para a educadora Lydia Hortélio, que ministra parte dessas oficinas e trabalha há mais de 40 anos com pesquisas do universo infantil, a civilização ocidental capitalista tem cerceado cada vez mais o direito de brincar. “As crianças estão diretamente comedidas ante a sociedade materialista, que privilegia um game a cultura do brincar, na qual a criança se apropria do próprio corpo e cultura, para aprender e conhecer suas possibilidade e a dos outros”, explicou.

A diretora e coordenadora pedagógica do projeto, Lia Mattos, classifica como urgente essa resgate. Para ela, as crianças de hoje estão paralisadas no desenvolvimento, com espaços reduzidos, tecnologia e violência. “Precisamos mostrar que o brinquedo é muito mais que o objeto: é a criatividade e interação com o outro”, afirmou. O estudante corumbaense, Joelson Aparecido dos Santos Soares, 17, que participa das oficinas, acredita que o projeto é muito interessante porque vai “re-mostrar” a brincadeira e sua importância para as gerações atuais.

“As brincadeiras foram se perdendo e muito rápido. Não é uma coisa de 50 anos atrás, é de agora, eu nasci e cresci na beira do rio e presenciei isso”, disse. A boliviana e bailarina do Moinho Cultural, Angela Sumami, 16, declarou que na Bolívia a brincadeira também esta acabando. “Hoje é só tecnologia, videogame e internet. Já não brincam mais como eu brincava quando era pequena. E eu volto com esse objetivo, de ser a multiplicadora dessa necessidade”, concluiu.

Após as oficinas, os jovens voltam para suas comunidades para gravar os vídeos que posteriormente serão convertidos em 40 micro-vídeos, entre um e cinco minutos cada. Esses serão utilizados para alimentar um portal que futuramente, segundo Lia, será abastecido por educadores, crianças e pessoas ao redor do mundo. Também, será realizada uma “caravana tecnobrincante”, na qual serão exibidos os vídeos nas comunidades participantes, com oficinas e apresentações. O lançamento está marcado para o dia 20 de abril.