A Federação das Indústrias se uniu ao Ministério Público no combate a uma arma poderosa dos corruptos, a compra de votos
“Se o candidato já começa com corrupção na fase de campanha, o problema pode tomar proporções ainda maiores no período de gestão”.
A frase de advertência, e historicamente comprovada, é da procuradora regional eleitoral Vanessa Camy, durante reunião na sede da Federação das Indústrias do MS, que selou acordo com o Ministério Público Estadual para combater a compra de votos e outras formas de corrupção eleitoral.
O acordo se deu no último dia 27 na sede da Fiems, entre o diretor-corporativo da federação, Jaime Verruck, o presidente da Associação Sul-Mato-Grossense dos Membros do Ministério Público (ASMMP), Alexandre Magno de Lacerda, o assessor jurídico João Campos e a procuradora Vanessa Camy.
Jaime Verruck afirmou que até o final de agosto a Fiems vai patrocinar uma “campanha ampla para conscientizar a população quanto às consequências da corrupção durante o período que antecede as eleições municipais, principalmente, no que diz respeito à compra de votos”.
Segundo Vanessa Damy, a campanha vai estar baseada na “distribuição de material gráfico e de adesivos para os carros, alcançando, dessa forma, todos os espaços possíveis”.
A procuradora ainda salientou que os eleitores serão informados “quanto às implicações da venda de votos e, também, estimularemos a denúncia de qualquer ato ilegal”.
Alexandre Magno de Lacerda, falando pelo MPE, seguiu na mesma linha: “Queremos ir para as ruas e tonar público todos os esclarecimentos”, afirmou.
OAB também havia lançado sistema de denúncias
Antes da Fiems, a Ordem dos Advogados do Brasil no MS (OAB/MS) lançou o site http://www.eleicoeslimpas.oabms.org.br. A OAB/MS quer receber denúncias anônimas para auxiliar a Justiça Eleitoral e ao Ministério Público Estadual (MPE) no combate à compra de votos no estado.
Ao que parece, e em sintonia com os desejos de ampla parcela da população, a campanha contra a compra de votos no MS começa a tomar fôlego e expressão.
Formas de compra de votos são conhecidas
Em todo o Brasil, e no MS também, a compra de votos se dá, às vezes, de forma escancarada. A começar pela sua raiz, que é a própria corrupção, como advertiu a procuradora Vanessa Damy.
Uma das mais usuais é a contratação massiva de cabos eleitorais, em quantidade muito acima do necessário para propagandear um candidato. Nesse caso, boa parte dos “contratados” assina recibos, mas fica em casa. Ou simplesmente os “contratados”são revezados por outros, assim tipo “jornada de trabalho”.
Uma forma de corrupção eleitoral descarada é a compra de votos direta como se tem notícias recentes, por exemplo, do bairro de Vila Cachoeira, em Dourados. Em 2010, a Polícia Federal chegou a montar uma operação para evitar a prática.
Ali, é conhecido o hábito das pessoas saírem às ruas, depois da meia-noite, um ou dois dias antes das eleições, para pegar o seu “Cenhão” – alusão popular à nota de R$ 100,00. Nos bairros populosos de Campo Grande notícias deram conta da existência do mesmo fato.
Se tudo isso não bastar, ainda resta a distribuição de cestas básicas, combustível e empregos para parentes de cabos eleitorais que, por sua vez, se encarregam de fazer o resto do serviço em sua área de atuação.
A questão é que o “contratado” vende o voto conscientemente. Incontáveis eleitores se vendem, mesmo cientes da prática de crime eleitoral, e que ficarão por mais quatro anos em filas intermináveis da saúde, sem educação, segurança, e trepidando num transporte público caro, velho e carcomido.
Esquema de corrupção precisa de “núcleo” para existir
Quando a compra de votos se dá para os cargos principais (governador, prefeito), a corrupção requer uma profunda “engenharia” para a prática do crime eleitoral.
Pesquisas eleitorais em bairros mais populosos, onde o candidato em questão está mais fragilizado com alta rejeição, ou onde um rival o ameaça, indicam a necessidade de “aplicação” do dinheiro público desviado pela corrupção.
Nesse caso, líderes locais ou de associações de bairro são especialmente seduzidos (nem todos se corrompem) com ofertas superiores a R$ 50 mil. Para que implementem a compra de votos em sua região de influência.
Nada disso aconteceria sem um grande esquema de “caixa de campanha” e de uma “inteligência” para mapear e distribuir o dinheiro por eleitores igualmente corruptos perante a lei.
Os mentores e executores de tal esquema, em geral, fazem parte do “núcleo” de influência de um determinado candidato. Invariavelmente, usa-se “laranjas” e empresas de “fachada” para sustentar o esquema fora dos períodos eleitorais.
E seja qual for a causa que defendem, todos enriquecem, como jamais ocorreria com um simples e honesto trabalhador.