Jornais brasileiros optam por desafiar poder do Google

Nesta segunda-feira (22/10), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) publicou um esclarecimento em relação ao Google News, depois de uma série de notícias na imprensa internacional anunciando que alguns dos maiores jornais brasileiros haviam retirado seu conteúdo do mecanismo de buscas na internet. Em entrevista à DW Brasil, o diretor-executivo da ANJ, Ricardo Pedreira, esclarece…

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Nesta segunda-feira (22/10), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) publicou um esclarecimento em relação ao Google News, depois de uma série de notícias na imprensa internacional anunciando que alguns dos maiores jornais brasileiros haviam retirado seu conteúdo do mecanismo de buscas na internet.

Em entrevista à DW Brasil, o diretor-executivo da ANJ, Ricardo Pedreira, esclareceu inicialmente que a ANJ não obrigou ninguém a se retirar do Google News. “Não temos o poder nem a atitude para isso.” Segundo ele, a ANJ apenas recomendou seus afiliados a desautorizar o Google News de mostrar as notícias. A intenção é obrigar o portal a dividir com as editoras dos jornais o lucro que obtém exibindo o conteúdo destas.

Um ano sem Google News

Conforme a ANJ, seus 154 membros representam cerca de 90% dos jornais diários do Brasil. A maioria deles incluindo os principais jornais brasileiros, como a Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo já seguem a recomendação há pelo menos um ano.

“O número de acessos aos sites dos jornais brasileiros teve uma perda pequena, inferior a 5%, com a saída do Google News”, declarou Pedreira. “Consideramos que esse é um preço que vale a pena diante da defesa que estamos fazendo do nosso conteúdo e do valor das nossas marcas jornalísticas.”

O caso voltou à tona depois que o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas, publicou em seu site, na quinta-feira passada, uma matéria com declarações do presidente da ANJ, Carlos Fernando Lindenberg Neto. A matéria falava sobre um painel na Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que aconteceu entre 12 e 16 de outubro em São Paulo, no qual Judith Brito, superintendente do grupo Folha, debateu o tema com Marcel Leonardi, diretor de políticas públicas do Google.

Brito foi antecessora de Lindenberg Neto na ANJ e havia anunciado a recomendação, defendendo a participação das editoras nos lucros do Google. Segundo as declarações de Lindenberg Neto, Leonardi teria respondido que era como se o dono de um restaurante exigisse participação nos lucros do motorista de táxi que lhe traz clientes.

Na argumentação da ANJ, as coisas não se dão dessa maneira. Segundo Pedreira, os usuários se satisfazem com a leitura da notícia no Google News e não clicam na página dos jornais. Primeiramente, a associação tentou chegar a um acordo com o mecanismo de busca: o Google News aceitou exibir só uma linha da notícia. Mas a mudança também não atingiu o efeito desejado, disse Pereira. Assim, a ANJ recomendou aos associados a retirada total das notícias do Google News.

Dúvida sobre os resultados da ação

“A exibição pelo Google News não pode ser um resumo da notícia original, mas despertar o interesse do usuário para continuar a leitura na página de origem,” declarou o advogado de direitos autorais alemão Felix Stang à DW Brasil. Ele também participou do painel em São Paulo.

“Mas isso não é do interesse do mecanismo de busca, e como o Google tem um quase monopólio em diversos países, recusa-se a negociar com as editoras uma modalidade de uso do conteúdo editorial.” Stang colocou o debate brasileiro num contexto internacional. “O problema existe em muitos países. Também na Alemanha as editoras querem garantir seus direitos sobre serviços de Internet, como o Google.”

Para ele, não é certo que os jornais brasileiros serão bem-sucedidos com a decisão. “Mas, de qualquer forma, é importante que somente as editoras tenham o direito de decidir sobre a comercialização de seu conteúdo por terceiros. Para esclarecer essa situação, o governo alemão apresentou um projeto para proteger os direitos de copyright das editoras.” A questão deve agora ser debatida pelo Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).

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