Em Mato Grosso do Sul, que tem a segunda maior população de indígenas do Brasil, divididos em sete etnias – Guarani, Terena, Kadiwéu, Guató, Ofayé, Kinikinau e Atikum. Os Kinikinau foram considerados extintos no século passado e têm utilizado a educação para voltarem a ser reconhecidos. Na última quarta-feira (19), o biólogo Rosaldo de Albuquerque defendeu dissertação de mestrado na Universidade de Brasília (UNB) e foi o primeiro indígena da etnia Kinikinau a receber o título de mestre. Ele fez parte da primeira turma do Mestrado Profissional em Desenvolvimento sustentável junto a Povos e Terras Indígenas – CDS/UnB, que teve início em Abril de 2011.

A dissertação do biólogo e bolsista do CNPq tem o título “Sustentabilidade e processos de reconstrução identitária entre o povo indígena Kinikinau (Koinukunôen) em Mato Grosso do Sul” e o objetivo principal de divulgar a existência do povo indígena Kinikinau na Aldeia São João por meio da indicação dos meios de sustentabilidade deste povo, principalmente a comercialização do mel extraído pelos homens, e o comércio da cerâmica produzida pelas mulheres. O orientador do trabalho foi o professor Dr. Othon Henry Leonardos (UnB/CDS) e o co-orientador o professor Dr. Giovani José da Silva (UFMS).

De acordo com um artigo científico escrito por Rosaldo, os Kinikinau sofrem expulsões de suas terras originais desde o final da Guerra do Paraguai (1864-1870), quando lutaram ao lado do exército brasileiro e na volta encontraram aldeias destruídas ou ocupadas por não-índios. Durante anos eles foram considerados extintos e eram obrigados a se registrarem como Terena pelo antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e depois pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

Em 1997, a Prefeitura de Porto Murtinho iniciou um trabalho de Educação Escolar na Reserva Indígena Kadiwéu com a perspectiva da implantação de escolas que atendessem às necessidades de cada aldeia. Na aldeia São João, entre 1997 e 1999 foram realizadas reuniões e debates sobre o tipo de educação que os índios da aldeia desejavam. Verificou-se que a maioria rejeitava um tratamento igual àquele oferecido aos Kadiwéu. Uma escola que atendesse a índios Terena também foi rejeitada pelo grupo. A partir desse episódio, os Kinikinau, ainda que timidamente, recomeçaram a expressar uma identidade étnica distinta. Em 1998, 58 indígenas da Reserva se declararam Kinikinau.

Rosaldo também é aluno do projeto “Equidade na Pós-graduação: o acesso de populações sub-representadas” ofertado pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) em Campo Grande e Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) em Dourados, com financiamento da Fundação Ford e da Fundação Carlos Chagas. O curso teve início em novembro de 2012 e tem como finalidade preparar negros e indígenas para concorrerem a programas de pós-graduação stricto sensu.

Kinikinau no curso de Direito

Durante o VI Congresso e Encontro Científico Transdisciplinar Direito e Cidadania na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que aconteceu em novembro de 2012 em Dourados/MS, Guilherme Lencine, acadêmico de Direito da UCDB, apresentou o trabalho “Povo Kinikinau: o despertar pela conquista da identidade cultural”. O artigo foi escrito em parceria com Renata do Carmo Sales, acadêmica de Direito na UEMS em Dourados. O texto resgata a história do povo Kinikinau com o objetivo de divulgar a discriminação sofrida por eles e fomentar a luta pela autonomia cultural, territorial e Linguística.

Guilherme e Renata são primos, indígenas etnia Kinikinau e participantes do projeto Rede de Saberes, uma parceria entre a UCDB, a UEMS, a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS – Aquidauana), que com recursos da Fundação Ford, apoia a permanência de indígenas no ensino superior.