A diretora-executiva do Inteligência, Márcia Cavallari Nunes, admitiu que o instituto errou em três de onze capitais brasileiras nas quais fez levantamentos de boca-de-urna, e prometeu um ‘olhar mais crítico’ para as pesquisas do segundo turno nas eleições municipais. Na capital sul-mato-grossense,  Campo Grande, o Ibope chegou a ter a divulgação de pesquisas barrada pela Justiça Eleitoral.

Em entrevista ao portal Congresso em Foco, Cavallari atribuiu os erros à decisão do eleitorado brasileiro de deixar para a última hora a escolha do candidato. “O eleitor brasileiro se empolga menos com as eleições e, preocupado em não repetir erros de votações anteriores, decide cada vez mais na última hora em quem votar. Captar para onde vão os votos dos indecisos, nesse cenário, é o principal desafio dos institutos de pesquisa nestas eleições”, alegou.

Em Campo Grande, os números do Ibope passaram boa parte do primeiro turno apontando o candidato da situação, Edson Giroto (PMDB) em primeiro lugar. Nas urnas, no entanto, o candidato do PP, Alcides Bernal, terminou a corrida na frente e Giroto teve que disputar pela segunda vaga do segundo turno com (PSDB).

De onze cidades nas quais o instituto realizou as pesquisas de boca-de-urna, três registraram grandes diferenças entre os números do Ibope e os resultados nas urnas. Além de Curitiba, Salvador e Manaus, mais cinco tiveram desvios menores, mas também terminaram com a votação fora da margem de erro: Porto Alegre, Rio de Janeiro, Goiânia, Recife e Fortaleza.

Em Curitiba, apesar de acertar ao dar o primeiro lugar ao deputado Ratinho Júnior (PSC), o Ibope errou o adversário dele: apontou o prefeito Luciano Ducci (PSB), enquanto as urnas escolheram o deputado Gustavo Fruet (PDT).

Já na capital baiana, o Ibope apontou que Nelson Pelegrino (PT) tinha vantagem de sete pontos percentuais sobre ACM Neto (DEM), que na verdade terminou um pouco à frente do petista na apuração oficial de Salvador.

Em Manaus, os números do Ibope apontavam que a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) teria uma diferença de apenas 11 pontos atrás do primeiro colocado, Arthur Virgílio (PSDB). Mas, nas urnas, a diferença real foi de 20 pontos.

Também houve candidatos recebendo menos votos do que os previstos pelo Ibope em Porto Alegre (RS), Goiânia (GO) e até no Rio de Janeiro (RJ). Nestes locais, apesar de ficarem fora da margem de erro, Cavallari garante que não houve erro.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, o Ibope antecipou com precisão a definição de quem foi para o segundo turno, acertando que José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) tinham se distanciado de Celso Russomanno (PRB).

“Algumas vão ficar fora da margem de de erro. Não tem jeito”, afirmou a executiva ao COngresso em Foco. Segundo Márcia, apesar dos erros, o desempenho do Ibope continua dentro da média histórica. “Conseguimos prever 95% dos votos corretos do primeiro turno, entre os dias 5, 6 e 7. É o mesmo índice de 2008. Não houve diferença na performance”, argumentou.

A executiva do instituto, que em Campo Grande é contratado pela TV Morena, e já tem pesquisa registrada no TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul) com divulgação prevista para a próxima sexta-feira (19), ressalta que os números nunca são totalmente confiáveis.

“É importante deixar claro que pesquisa não é infalível, não dita a última palavra. Senão, nem precisava de eleição. É uma informação a mais que o eleitor tem em meio a tantas outras para a tomada de decisão”, conclui.

Márcia Cavallari é a estatística responsável pela pesquisa, que custou oficialmente R$ 33.110,00 para a Televisão Morena Ltda. No registro junto ao TRE-MS, ela garante que o trabalho utilizará uma equipe de entrevistadores e supervisores contratados “pelo Ibope Inteligência e Consultoria Ltda, devidamente treinados para o trabalho”.

Sobre os locais nos quais está ouvindo os entrevistado, o Ibope informou apenas que “a área de abrangência da coleta é formada pelo município ora informado”. Segundo o registrado por Cavallari na Justiça Eleitoral, “a relação dos bairros selecionados para aplicação da amostra será apresentada após a divulgação do resultado da pesquisa”.

Ainda segundo o que a estatística do Ibope informou ao TRE-MS, “está prevista eventual ponderação para correção das variáveis sexo e idade, com base nos percentuais anteriormente mencionados, caso ocorram diferenças superiores a 3 pontos percentuais entre o previsto na amostra e a coleta de dados realizada”.

Com a metodologia adotada, o intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro máxima estimada, considerando um modelo de amostragem aleatório simples, é de 4 (quatro) pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra.

Questionada pelo jornalista do Congresso em Foco sobre a atenção redobrada nas capitais para este segundo turno, Cavallari admite que o Ibope deve ter um ‘olhar mais crítico’.

“Manaus e Salvador são os casos mais preocupantes por causa da validação da amostragem. Vamos ter um olhar mais crítico nessas cidades. Na verdade, vamos olhar bem em todas que tiverem segundo turno. Mas tem uma variável que nos ajuda agora que é o resultado da amostra. O segundo turno é sempre mais fácil que o primeiro, porque a indecisão não é tão grande. São só dois candidatos. Não fica se arrastando. No primeiro turno, nossa média histórica de acertos é de 95%; no segundo, de 98%, 100%”, promete. (Com informações do Congresso em Foco)

Confira no arquivo abaixo o formulário que o Ibope cadastrou no TRE-MS para realizar a pesquisa em Campo Grande: