Embrapa desenvolve plantas de alface com maior teor de ácido fólico
A anencefalia tem sido foco de discussões no Brasil que envolvem médicos, cientistas, juristas, religiosos e a sociedade em geral. Polêmicas à parte, a má notícia é que a incidência de fetos anencéfalos vem aumentando nas últimas décadas e hoje é de um em cada 700 no Brasil, o que é um índice relativamente alto. […]
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A anencefalia tem sido foco de discussões no Brasil que envolvem médicos, cientistas, juristas, religiosos e a sociedade em geral.
Polêmicas à parte, a má notícia é que a incidência de fetos anencéfalos vem aumentando nas últimas décadas e hoje é de um em cada 700 no Brasil, o que é um índice relativamente alto.
O Brasil é o quarto país do mundo com maior prevalência de nascimentos de bebês com anencefalia, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No país ocorrem cerca de 1.800 casos por ano.
Apesar de a causa da anencefalia ainda não estar completamente definida – provavelmente é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais – já se sabe que a ingestão de ácido fólico meses antes da concepção pode prevenir em mais de 50% a ocorrência dessa doença.
Por outro lado, a boa notícia é que a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das 47 unidades da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, está desenvolvendo uma pesquisa para aumentar o teor de ácido fólico, ou vitamina B9, nas plantas de alface.
A pesquisa, coordenada pelo pesquisador Francisco Aragão, começou em 2006 com o objetivo de desenvolver plantas de alface geneticamente modificadas com maior teor de ácido fólico. Segundo ele, a alface já produz essa vitamina, mas em pequenas quantidades.
O que ele e sua equipe fizeram foi aumentar a produção das moléculas que dão origem ao ácido fólico através da introdução de genes de Arabidopsis thaliana, que é uma planta-modelo, muito utilizada na biotecnologia vegetal.
Os estudos foram realizados de duas maneiras: no primeiro caso, o gene foi inserido no genoma nuclear da planta e no segundo, no cloroplasto (parte da planta responsável pela fotossíntese).
A primeira vertente resultou em linhagens de plantas com até 15 vezes mais ácido fólico e a segunda, com duas vezes mais.
Aragão pretende iniciar o cruzamento entre as duas variedades para tentar alcançar índices ainda maiores da vitamina nas plantas.
“Manipulando as duas rotas, pode ser que essa quantidade chegue a até 30 vezes mais, como indicam alguns estudos semelhantes realizados nos Estados Unidos”, afirma.
Mas, mesmo antes dos cruzamentos, os resultados da pesquisa são muito satisfatórios, como explica Aragão.
A dose diária de ácido fólico recomendada para um adulto a partir de 15 anos é de 0.4 mg (=400µg), o que significa que a ingestão de apenas duas folinhas das alfaces GM desenvolvidas pela Embrapa representa 70% da vitamina que precisamos diariamente.
“É uma perspectiva muito promissora, especialmente se levarmos em consideração que os programas de biofortificação de alimentos, geralmente, consideram 30% uma quantidade suficiente. Conseguimos mais do que o dobro”, comemora o pesquisador.
Próximo passo: análises de biossegurança
As plantas estão prontas nas casas de vegetação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF, aguardando pelo próximo passo que é iniciar as análises de biossegurança para, então, encaminhar o pedido de liberação à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio.
A vantagem da alface é que, além de ser uma hortaliça que faz parte da dieta da população brasileira, ela pode ser ingerida crua, o que é muito melhor para a absorção das vitaminas.
As plantas modificadas pela Embrapa são de um tipo de alface crespa, que é a preferida da população do Distrito Federal. “Mas, a pesquisa pode ser estendida a outras variedades”, diz Aragão.
As plantas foram testadas com ratos para testar a capacidade da absorção do ácido fólico por mamíferos e os resultados foram muito bons.
Na primeira semana em que receberam as folhas de alface geneticamente modificadas, os animais tiveram um crescimento significativo do teor da vitamina no sangue.
Aumento de ácido fólico é preocupação no Brasil e em outros países
Na verdade, a preocupação com o aumento do teor de ácido fólico na nutrição humana já é preocupação do Brasil e de outros países que, por isso, optaram pela suplementação dessa vitamina em farinhas.
Nos Estados Unidos e Chile, por exemplo, que começaram a adotar essa medida há mais tempo, a má formação fetal diminuiu em 20 a 30%. No Brasil, a iniciativa começou no ano de 2002.
As mulheres grávidas, normalmente, passam a ingerir mais quantidade de ácido fólico por recomendações médicas, já que a dose diária recomendada nesses casos é de 0.8 mg (=800µg), segundo a FDA – Food and Drug Administration dos EUA.
O problema é que as más formações fetais, como a anencefalia, ocorrem bem no início da vida intra-uterina, por volta da terceira e quarta semana de gestação quando, muitas vezes, as mulheres sequer sabem que estão grávidas.
Por isso, o ideal é que as mulheres em idade reprodutiva consumam regularmente essa vitamina. Aquelas que querem engravidar devem iniciar a suplementação três meses antes da concepção.
Além da anencefalia, a deficiência de ácido fólico pode resultar em outras deformações congênitas, como a espinha bífida, lábio leporino e fenda palatina.
Algumas ações de conscientização vêm sendo realizadas pelos órgãos de saúde no Brasil, como a Semana da Conscientização Sobre a Importância do Ácido Fólico, por exemplo.
Outras doenças nervosas estão relacionadas à baixa ingestão de vitamina B9
Estudos recentes mostram que outras doenças nervosas, como a depressão, por exemplo, podem estar relacionadas ao baixo teor de ácido fólico na alimentação.
Antigamente, esse índice era restrito a mulheres de baixo poder aquisitivo, mas hoje atinge mulheres de todas as classes e faixas etárias, especialmente em países em desenvolvimento.
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