A Fundação Municipal de Cultura de Campo Grande (FUNDAC) com o apoio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) realiza no próximo sábado (04 de agosto), às 20 horas, no Teatro Aracy Balabanian no Centro Cultural José Octávio Guizzo, o show de lançamento do CD “Descendo Sarrafo” do grupo Choro Opus Trio com entrada franca.

O projeto contemplado pelo Programa Petrobras Cultural por meio do Programa Nacional de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) do Governo Federal traz uma coletânea do compositor Amintas José da Costa, Sarrafo, cujas obras foram apreendidas na época da ditadura militar no Brasil.

Formado por Eduardo Martinelli (violões), Ivan Cruz (bandolim) e Philip Andara (flauta), o Choro Opus Trio desenvolve um trabalho de resgate e registro do choro, pesquisando e interpretando as composições de Sarrafo que completou 93 anos em 2012.

O compositor e saxofonista conviveu com grandes nomes da música brasileira como Pixinguinha e Guerra Peixe e trabalhou em cassinos, rádios e posteriormente na televisão, veí­culos que à época tinham orquestras próprias. Um pouco dessa história está em faixa bônus da gravação narrada pelo próprio autor, além de casos peculiares descritos no encarte do CD como a passagem de Sarrafo pela Força Pública de Alagoas, quando viu a cabeça do cangaceiro Lampião em uma salva de prata e o fato de não ter ido aos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial por ser músico e estar ajudando na formação de novas tropas. “Senti ali a mão de Deus”, conta o compositor.

Sarrafo tem uma importante herança musical a deixar, com choros compostos com influências melódicas e harmônicas dos choros tradicionais. Suas obras conseguem obter originalidade, mesmo sendo baseadas numa estrutura tradicional, devido à melodia bastante ornamentada.

Com arranjos elaborados para diversas formações instrumentais criados a partir das partituras originais, o CD tem a participação de convidados como o Quarteto Toccata (violões), a flautista suíça e pesquisadora da música brasileira, Myrian Dickinson; do bandolinista português, Norberto Cruz; da Filarmônica Jovem do Pantanal, dos violonistas Plínio Fernandes e Carlos Alfeu, do violinista Newton Reis e do próprio compositor, que acompanhou a produção e participa do lançamento da obra.

O projeto propiciou um importante intercâmbio cultural, com a integração de Campo Grande a cidade histórica de Itanhaém, litoral sul do Estado de São Paulo, cidade na qual reside o compositor. “Esse encontro surgiu através dos laços de amizade com o maestro Martinelli, que já morou aqui [Itanhaém] e esta sempre em contato conosco. O resultado é o resgate de todo esse material que poderia ter simplesmente se perdido na história”, considera Sarrafo.

O título da obra “Descendo Sarrafo” é uma alusão ao apelido do compositor, que também batizou as músicas com referência a madeiras. Assim, surgiram: Tronco de Ipê, É Lenha, Casca de Pau, Madeira de Dar em Doido, Pó de Serra, entre outras.

O lançamento terá a participação especial do Coro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFMS), das crianças da Orquestra Infantil da Fundação Ueze Zahran, preparados pela professora Cinara Baccilli.

Ainda em 2012, a Fundação Municipal de Cultura irá realizar uma série de recitais didáticos, nos quais irá distribuir o CD para instituições socioculturais, contribuindo para a democratização da arte e da cultura.
 
Amintas José da Costa

Maestro, compositor e saxofonista, Amintas José da Costa, Sarrafo, nasceu no dia 22 de Janeiro de 1919, em Aracaju, Sergipe. Começou sua trajetória musical aos 17 anos no projeto de ensino de José Viena. Em 1937, Ingressou na Força Pública de Sergipe onde também tocou na banda da corporação.

Em 1940 mudou-se para o Rio de Janeiro. Trabalhou em bandas e orquestras de casas noturnas, cassinos e rádios e conviveu com grandes nomes da música brasileira, como o maestro Guerra Peixe, Edmundo Villani-Côrtes e Pixinguinha.

Mudou-se para São Paulo em 1950, onde continuou sua história na música, tocando também nas primeiras emissoras de TV do país, sendo maestro da TV Tupi. A partir de 1968 compôs e gravou seus primeiros choros, obras que se perderam em estúdio fechado pela ditadura militar e que agora estão sendo resgatadas pelo grupo Choro Opus Trio.

Atualmente Sarrafo também compõe letras de músicas nas qual faz homenagens a pessoas importantes para a vida dele, como a mãe, os professores e a cidade que o acolheu há 30 anos, Itanhaém (SP). Sarrafo contribui com seus conhecimentos no Ponto de Cultura Ativa, com lições de música e de vida.
 
O Centro Cultural José Octávio Guizzo fica localizado na rua 26 de Agosto, 453, entre as ruas Calogeras e 14 de julho.