Carlinhos Cachoeira e a mulher, Andressa Mendonça, tiveram um encontro de cinco minutos em uma sala do prédio da Justiça Federal de Goiânia (GO) nesta terça-feira. O encontro foi autorizado pelo juiz da 11ª Vara, Alderico Rocha, que preside a audiência do processo da Operação Monte Carlo.

Os dois estiveram juntos ao fim da primeira parte da audiência. Questionada sobre o teor do encontro, Andressa se limitou a contar que o marido disse estar muito otimista. Assim como o pai de Cachoeira, Sebastião de Almeida Ramos, Andressa também acompanha a audiência.

Ontem, a mulher do contraventor teve negado o pedido para ver seu marido na sede da Polícia Federal de Goiânia (GO). Diante da recusa, Andressa foi autorizada a escrever um bilhete para o bicheiro. “Coisas de uma mulher para o marido. Nada de especial”, disse, sem revelar o conteúdo da mensagem. Um fotógrafo local, contudo, teve acesso ao bilhete.

“Quero que você saiba que é um momento difícil das nossas vidas. Eu sei que o nosso amor é maior que qualquer dificuldade. Você tem uma mulher que te ama e nunca te despreza”, dizia a mensagem. “Estou orando por ti”, concluiu Andressa.

A audiência

O agente da Polícia Federal (PF) Fábio Alvarez foi o primeiro a ser ouvido na audiência dos envolvidos na Operação Monte Carlo. Sentado na primeira fila, Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, acompanhou com atenção o depoimento, que durou cerca de três horas.

Hoje estão previstos os depoimentos das 14 testemunhas – 10 de defesa e quatro de acusação. As oitivas dos réus, inclusive a de Cachoeira, estão marcadas para amanhã. Apenas um dos sete réus acusados de participar do esquema não assiste aos depoimentos: o foragido Giovani Pereira da Silva.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.