O editor de Oriente Médio da BBC, Jeremy Bowen, respondeu nesta segunda-feira, via Twitter, a perguntas feitas por internautas sobre a cobertura dos conflitos na Líbia, no Egito, no Líbano e em outras áreas do Oriente Médio. A polêmica sobre o vídeo anti-islâmico que vêm provocando mortes e protestos na região dominou boa parte da “conversa”.

Quando questionado sobre por que muçulmanos são tão sensíveis a supostas críticas ou insultos, Bowen disse que eles acreditam já terem sofrido muitas críticas injustas e que, em diferentes níveis, sentem-se ameaçados por governos ocidentais. “No Cairo, o filme foi usado para encorajar (as pessoas), e depois serviu de catalisador para outros tipos de protestos”, disse.

Para o jornalista, foi genuíno o modo como boa parte do mundo islâmico se sentiu ofendido pelo vídeo, mas lembrou que depois dessas primeiras manifestações, algumas outras foram organizadas por grupos políticos, como a ocorrida em Beirute, liderada pelo Hezbollah.

“Acredito que os muçulmanos mais fervorosos viram o vídeo como um insulto. Muitos não concordam com os protestos violentos.”

Negociações de paz

Um internauta quis saber de Bowen se ele achava que as manifestações recentes representavam um passo atrás nas negociações de paz no Oriente Médio. “Não há um processo de paz significativo para os maiores conflitos da região, por isso não há como ser um retrocesso.”

O editor também falou sobre o impacto da Primavera Árabe na população comum, dizendo que a remoção das polícias governamentais foi um dos pontos positivos, já que eram uma grande fonte de medo. No entanto, afirma que muitos problemas de instabilidade e desemprego ainda não foram resolvidos.

“Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha foram surpreendidos (pela Primavera Árabe). Eles passaram 2011 se esforçando para lidar com isso. Mas eventos recentes sugerem que 2012 é capaz de surpreendê-los novamente.”

Amizades

Bowen também foi questionado se vê alguma mudança na política externa americana e britânica para a região. Para o editor, as mudanças mostram como a influência dos dois países vem sendo reduzida, com a diferença que a Grã-Bretanha está acostumada com isso, e os EUA, não.

“Por muitos anos, o Ocidente baseava sua política para o Oriente Médio em amizades com líderes autoritários como (Hosni) Mubarak (ex-presidente egípcio). Então, agora ficou mais difícil de saber com quem se deve negociar.”

O editor também comentou sobre o cenário complicado que reina hoje na Síria, já que até o momento nenhum dos lados parece que vai perder – ou ganhar. “Mas a longo prazo é difícil de o governo Assad se sustentar na atual circunstância. Síria pode exportar instabilidade para uma geração. Aqui no Líbano e em toda a fronteira com a Síria, as pessoas estão nervosas a respeito dessa possibilidade.”

Filme anti-islamismo desencadeia protestos contra EUA

Na última terça-feira, 11 de setembro, protestos irromperam em frente às embaixadas americanas do Cairo, no Egito, e de Benghazi, na Líbia, motivados por um vídeo que zombava do islamismo e de Maomé, o profeta muçulmano. No primeiro caso, os manifestantes destroçaram a bandeira estadunidense; no segundo, os ataques chegaram ao interior da embaixada, durante os quais morreram, entre outros, o embaixador e representante de Washington, Cristopher Stevens.

Os protestos se disseminaram-se contra embaixadas americanas em diversos países da África e do Oriente Médio. Sexta, 14 de setembro, registrou o ápice da tensão, quando eventos foram registrados em Túnis (Tunísia), Cartum (Sudão), Jerusalém (Israel) , Amã (Jordânia) e Sanaa (Iêmen). No Cairo, as manifestações têm sido quase diárias. No dia 17, Afeganistão e Indonésia também tiveram protestos.

O vídeo que desencadeou esta onda de protestos no mesmo dia em que os Estados Unidos relembravam os atentados terroristas de 2001 traz trechos de Innocence of Muslims, filme produzido nos Estados Unidos sob a suposta direção de Nakoula Basseky Nakoula. Ele seria um cristão copta egípcio residente nos Estados Unidos, mas sua verdadeira identidade e localização ainda são investigadas. O filme, de qualidades intelectual e cultural amplamente questionáveis, zomba abertamente do Islã e denigre de a imagem de Maomé, principal nome da tradição muçulmana.

A Casa Branca lamentou o conteúdo do material, afirmou não ter nenhuma relação com suas premissas e ordenou o reforço das embaixadas americanas. No dia 15 de setembro, a Al-Qaeda emitiu um comunicado no qual afirmava que a ação em Benghazi foi uma vingança pela morte do número 2 da rede terrorista no Iêmen em um ataque do Exército.