O mistério está chegando ao fim. No caminho entre o Brasil e a França, um avião desapareceu e, quase dois anos depois, a façanha de encontrá-lo no fundo do Oceano Atlântico foi realizada. Mas, para desvendar essa história, tão dolorosa para brasileiros e franceses, foi necessária a participação de americanos.

Para Mike Purcell, a sensação é de dever cumprido. Ele foi o chefe da missão que localizou o que restou do avião da Air France. Purcell recebeu o Fantástico na cidade de Cape Cod, nos Estados Unidos, onde são produzidos os submarinos-robôs que participaram das buscas.

Mike lembra que dois submarinos revezavam, em turnos de 12 horas cada, o trabalho de mapear a região com uma espécie de sonda. Ela emitia vibrações sonoras que poderiam indicar a presença de algum destroço. Um terceiro submarino-robô registrava as imagens. Ele é conhecido como Maryanne e encontrou o que todos esperavam.

Mas foi por pouco que uma tempestade não estragou a felicidade da equipe. Ondas violentas quase levaram o submarino, a única prova real de onde estavam os destroços.

Mike conta que um submarino-robô desses pode ficar 20 horas embaixo d’água e percorrer até 6 mil metros de profundidade. No mundo todo, existem apenas seis modelos cada um, avaliado em US$ 12 milhões.

Mas o que torna esse submarino tão especial? Mike conta que ele é programado como um computador. Sua rota é definida por técnicos antes de sua descida. Por isso, sabe muito bem o caminho a seguir.

A tarefa do grupo de Mike foi bem-sucedida, mas o trabalho das autoridades francesas continua. Durante a semana, eles encontraram a segunda caixa-preta do avião da Air France. Nela, estão os registros dos últimos 120 minutos de conversa dos pilotos dentro da cabine. A primeira, com informações técnicas do voo 447, foi encontrada na última semana.

Depois das caixas-pretas, vem o imenso trabalho de içar para a superfície os corpos das vítimas do acidente. E aí, tudo se complica bem mais. Nunca foi divulgado quantos ainda estão lá, mas se sabe que são, pelo menos, algumas dezenas. Esse é um trabalho muito delicado – e delicadeza é algo que um robô não tem.

A operação começa em alto-mar, sobre o ponto onde se encontram os destroços. O navio francês lança nas águas o robô Remora 6000 – um modelo com braços mecânicos e uma espécie de cesta presa a ele. O robô desce a quase 4 mil metros de profundidade, onde os corpos estão. A região é chamada Cordilheira Meso-Oceânica ou Meso-Atlântica. Se fosse possível ver o fundo, sem toda a água, o desenho seria como o de uma cadeia de montanhas irregulares, um ponto de acesso muito difícil.

No local, a temperatura da água é de, no máximo, 2ºC. A concentração de oxigênio é muito baixa. Os microorganismos que fazem a decomposição não conseguem sobreviver em um ambiente assim. Por isso, mesmo quase dois anos depois, os corpos estão relativamente bem conservados. Por outro lado, a pressão é 400 vezes maior que a da superfície, o que complica manter os corpos intactos durante o retorno.

Começa então, o complicado processo de resgate. Com a ajuda dos braços mecânicos, o corpo é colocado na cesta. Em seguida, percorre os quatro quilômetros de volta à superfície, até o navio. Ao chegar, o corpo vai para uma câmera fria.

A decisão de retirar esses corpos é delicada também por um outro motivo. É o retorno da dor causada pela morte dessas pessoas e cada família sente isso de uma maneira diferente.

“Sinceramente, eu, como mãe, não gostaria que minha filha fosse encontrada. Eu gostaria que ela e o marido dela estivessem lá no lugar onde eles estão, felizes, abraçadinhos”, diz Márcia Pires Costa.

Nelson Marinho perdeu o filho Marcelo. Ele lidera a associação de vítimas do acidente. Para eles, retirar os corpos do fundo do mar é o desejo da maioria. “Nós estamos recebendo de maneira que conforta as famílias pelo fato de podermos finalizar a vida”.