O escritor espanhol Javier Moro evoca a figura do imperador do Brasil dom Pedro I, que mostra como um homem a frente de seu tempo, em seu romance “El imperio eres tú”, com a qual ganhou esta noite o 60º Prêmio Planeta.

“El imperio eres tú” é uma minuciosa crônica da vida de Pedro I, que reinou na primeira metade do século XIX, um homem, segundo disse em entrevista coletiva Moro, que encarna “a longa história da luta do ser humano pela liberdade, concretamente o homem que forjou a independência da primeira nação latino-americana”, e que define como uma das pessoas “mais surpreendentes, pitorescas e originais”.

“Pedro I foi um filho leal, amante fogoso, mas um marido terrível, que o diga sua mulher, Leopoldina da Áustria, que o ajudou a ser imperador aos 23 anos, mas que teve o defeito de amar demais um homem, metade Don Juan e metade Don Quixote, ao qual se atribuem 120 filhos, dos quais reconheceu uma dúzia”, disse o escritor.

“No final de sua vida, o imperador não queria o poder, mas a glória, e o conseguiu lutando do lado da liberdade em um conflito civil que pode ser visto como o prelúdio de nossa guerra civil”, continua Moro.

O escritor espanhol, que demorou três anos para escrever o romance, com um ano e meio de pesquisa documental, assegura que sua obra não é apenas a história de Pedro I, mas também a história de sua família, obrigada a fugir para a América fugindo de Napoleão, “a primeira vez que uma monarquia europeia foi para as colônias e com ela 10% da população de Portugal, que transferiu a capital do reino de Lisboa para o Rio de Janeiro”.

Em suas páginas, Moro descreve uma corte na qual convivem “comerciantes de escravos, militares ambiciosos, artistas, músicos e cientistas idealistas”.

Confessou que escrever “El imperio eres tú” foi um desafio, porque nos dois últimos romances tinha entrado na cabeça de dois personagens femininos e agora queria “atacar a psique masculina” e para isso “queria contar de dentro o que os historiadores contaram por fora”.

Ao contrário de seu pai, o imperador Pedro II foi “um homem perfeito, nada mulherengo e que reinou durante 50 anos”, mas Pedro I era muito mais atraente de um ponto de vista literário: “Nos 36 anos que viveu fez muitas coisas e deixou sua marca na história de dois continentes”.

Desde a época em que viveu no Brasil nos anos 90, Moro já tinha conhecimento sobre Pedro I, de Leopoldina, uma mulher ainda muito querida no Brasil e de sua amante Domitila de Castro, personagens fascinantes que “não podia deixar passar sua história”.

“Nas pesquisas que fiz sobre o primeiro imperador do Brasil, descobri que ele tinha uma mãe espanhola, um aspecto pouco conhecido em nosso país”, disse.