Para cada remédio, um horário ideal
Nem duas vezes por dia, nem de oito em oito horas. O horário preciso em que o paciente toma um remédio pode determinar o sucesso do tratamento. É o que defende a cronofarmacologia, ramo da ciência que estuda justamente qual é o melhor momento do dia para um paciente tomar cada medicamento. “Vários estudos mostram […]
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Nem duas vezes por dia, nem de oito em oito horas. O horário preciso em que o paciente toma um remédio pode determinar o sucesso do tratamento. É o que defende a cronofarmacologia, ramo da ciência que estuda justamente qual é o melhor momento do dia para um paciente tomar cada medicamento.
“Vários estudos mostram que, se tomados na hora certa, alguns remédios vão ser potencializados, enquanto os efeitos colaterais serão menores”, diz a biomédica Regina Pekelmann Markus, professora do Laboratório de Cronofarmacologia do Instituto de Biociências da USP, um dos pioneiros no tema do País.
Dar mais importância aos horários é importante porque as atividades do organismo variam ao longo do dia, de acordo com o chamado ciclo circadiano (leia mais ao lado). Esse ritmo orgânico, por sua vez, é orquestrado pelo hormônio melatonina, essencial para regular o sono e produzido exclusivamente à noite, na ausência de luz.
Em outras palavras, o corpo usa a variação entre o dia e a noite para ajustar o seu próprio relógio biológico. É o ciclo circadiano que determina, por exemplo, que a pressão arterial atinja seu pico e a frequência cardíaca aumente um pouco antes do despertar: tudo isso porque ocorrem descargas dos hormônios adrenalina e cortisol nesse horário, ajudando o corpo a se preparar para ficar alerta. Assim, o melhor horário para tomar remédios contra hipertensão é pouco antes de dormir.
Já a queda de cortisol, que também tem um efeito anti-inflamatório, se dá por volta de 4h, algo de impacto importante para quem tem asma: sem cortisol, os brônquios pulmonares ficam inflamados, dificultando a respiração – é por isso que o remédio contra asma precisa fazer efeito nesse horário.
No Brasil, a cronofarmacologia tem sido pesquisada há cerca de 10 anos e o Conselho Federal de Farmácia está fazendo um levantamento sobre os estudos nacionais ligados ao tema. Alguns remédios já começaram a trazer na bula, inclusive, indicações precisas sobre o horário adequado de administração, prática consolidada nos EUA.
Para Regina, os médicos têm ficado mais atentos à influência do horário sobre os remédios. “Mas a melatonina ainda não está sendo muito considerada na prática clínica”, critica. Ela é organizadora de uma conferência internacional sobre o tema marcada para junho, nos EUA. “No mundo inteiro há pressão para que os médicos levem em consideração o fator do horário na administração de remédios”, diz.
O pneumologista José Manoel Jansen da Silva, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é um dos brasileiros que já aplicam a cronofarmacologia – assunto que ganhou um capítulo inteiro em um livro organizado por ele: Medicina da noite: da cronobiologia à prática clínica. Para o médico, contudo, ainda faltam estudos sobre o tema.
“Conhecemos alguns medicamentos que, de acordo com o horário em que são tomados, sofrem uma interferência muito grande. Mas não existem estudos sobre todos os remédios.”
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