Pajés recorrem à reza para curar criança índia internada no HR com câncer no joelho
Menina de oito anos de idade está internada no Hospital Regional e médico disse que ela precisa ter perna amputada; pajés são contra e acham que orações curam a criança
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Menina de oito anos de idade está internada no Hospital Regional e médico disse que ela precisa ter perna amputada; pajés são contra e acham que orações curam a criança
Internada com diagnóstico de câncer num dos joelhos desde o dia 25 do mês passado no Hospital Regional, em Campo Grande, uma menina de oito anos de idade, índia da aldeia de Porto Lindo, em Japorã (MS), vive um dilema: o médico diz que ela precisa amputar a perna, caso contrário corre o risco de morte. Já a comunidade indígena onde mora acha que cura a criança por meio da reza. Tirar pedaço de um membro de um paciente índio, para ele, é como “carregar a maldição de seus antepassados”.
A mãe da menina havia autorizado a cirurgia, mas os líderes da aldeia Porto Lindo, desfizeram o combinado.
Nesta quinta-feira, três pajés vieram para Campo Grande e, nesta tarde, participaram de um ritual religioso no Cethohi (Centro de Tratamento Onco-Hematológico Infantil) do HR. Eles ficaram perto da cama da menina e trouxeram líquidos dentro de dois frascos. Durante as orações, eles beberam o líquido e passaram uma porção na joelho da menina.
O oncologista Marcelo Souza, médico que cuida da criança tenta convencer os índios que a menina precisa de amputar a perna, mas tem enfrentado resistência. Enquanto isto, os dois modelos de tratamento, medicina convencional ocidental e espiritual indígena prosseguem.
De acordo com ele, a criança foi internada no hospital com problemas por desnutrição, além do câncer. A criança índia, da etnia Guarani, já havia sido internada num hospital em Dourados.
Os índios que participaram do ritual foram identificados como João Antonio Fernandes, 84; Virgília Romeiro, 52 e Aldair Romeiro, 22. O médico Marcelo Souza destaca que pelo quadro clínico da menina, sem amputação não tem cura para ela, embora seu estado de saúde seja estável.
Zelik Trajber, coordenador das equipes de saúde indígena do Ministério da Saúde, detalhou que a reza das lideranças significa para o povo indígena trazer uma forma de equilibrio das forças e energias da pessoa.
“No entendimento deles a doença é um desequilíbrio no corpo que ocasionou a doença. É importante a gente entender que as medicinas não são antagônicas. Os dois lados se completam”, explica.
Os pajés vão fazer as rezas e rituais no quarto da menina por mais dois dias. Depois disto, a ideia do médico que cuida dela é preparar o procedimento para amputação. “Temos todo amparo legal para o procedimento”, garante.
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