Segundo os pescadores, aliado à redução de peixe disponível no Rio Paraná, o abandono das obras do entreposto pesqueiro torna a atividade cada vez mais inviável.
“Nunca fiz outra coisa a não ser pescar”, diz o
pescador profissional, Argemiro Antonio da Silva, conhecido por Bila, na data em
que se comemora o Dia do Pescador – 29 de junho – Dia de São Pedro (Apóstolo de
Cristo, que também era um profissional da pesca).
Aos 60 anos, 44 dedicados à pesca no Rio Paraná, na
região denominada Jupiá, em Três Lagoas, ele participou de muitas mudanças em
sua profissão. “Sou do tempo em que o rio era cheio de peixes, no qual com
facilidade garantíamos o sustento da família”, conta.
Pai de quatro filhos, um deles com a mesma
profissão. “O mais velho de meus filhos, de 34 anos, resolveu ser pescador de
tanto me acompanhar. Porém quando o de 11 anos cogita em seguir a profissão, eu
vou logo dizendo que é um péssimo investimento, pois a novela do pescador
profissional já chegou ao fim”.
Bila pertence à Colônia de Pescadores Z3,
considerada modelo no Estado. Segundo o pescador, as obras compensatórias pela
Barragem de Jupiá, no Município, ao invés de auxiliá-los, trouxeram os maiores
problemas enfrentados hoje.
“Antes, quando era essa época de frio, o rio
abaixava de nível porque quase não chovia. Dessa forma, os pescadores garantiam
a produção de peixes apesar da baixa temperatura. Atualmente, o rio permanece
cheio, mesmo em época seca, devido à
Barragem. Muita gente, que vivia da pesca, desistiu da atividade por causa
desta nova realidade”, explica.
Antonio de Souza Farias é presidente da Z3. Ele
relata que a Colônia também celebra 29 anos nesta quarta-feira (29), mas há
pouca coisa para comemorar. “Com os recursos compensatórios da Companhia
Energética de São Paulo (Cesp), pudemos adquirir um caminhão frigorífico, um
barco, construir nossa sede e o entreposto pesqueiro (local onde o pescado é
tratado e armazenado para comercialização em qualidade compatível com as
exigências legais). Contudo, esse espaço, que nos beneficiaria na atividade
profissional, nunca foi concluído e os equipamentos raramente são utilizados”,
esclarece.
De acordo com Antonio, a falta do selo de
qualidade, garantido após a preparação da produção pesqueira dos 450 pescadores
cadastrados da Colônia, impede a comercialização junto ao comércio local e nas
cidades vizinhas.
“Hoje, o principal empecilho para que o entreposto
funcione é a liberação da licença ambiental do Instituto de Meio Ambiente de
Mato Grosso do Sul (Imasul) e de outros documentos que nos habilitariam à venda
legalizada. Nossa produção ainda é vendida pelos próprios pescadores nas feiras
livres, em suas residências e pelas ruas da Cidade”.
Baixa
lucratividade
A espécie mais apreciada pelo três-lagoense, a
piapara, é vendida pelos pescadores, com o preço médio de R$ 6,00. “Há períodos
do ano em que esse valor cai para até R$ 3,50. O pescador passa a ter um lucro
mínimo, ou em algumas situações, praticamente zero, pois a atividade tem se
tornado cada vez mais onerosa. Se o entreposto estivesse funcionando, ele
garantiria recursos ao profissional durante essa época de peixes fartos, em que
o preço diminui, assim como poderíamos armazená-los até que se consiga venda
mais vantajosa”, elucida Antonio.
Segundo o vereador Idevaldo Claudino da Silva (PT),
a Administração Municipal não tem viabilizado programas disponibilizados pelo
Governo Federal para a atividade pesqueira. “O Ministério da Pesca e
Aquicultura oferece um leque de opções para o desenvolvimento da pesca com
sustentabilidade. Entretanto, os setores da Prefeitura que deveriam estar mais
atentos aos recursos disponíveis, parecem não ter interesse pela atividade. A
aquicultura da Cidade, que também é conhecida como “Cidade das Águas”, poderia
estar bem mais avançada”, contesta.
Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Econômico
Segundo o secretário Marco Garcia, não há projetos
em vista para o setor, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Econômico. “Na semana passada começamos a pensar nesse assunto, mas não
decidimos nada. Talvez possamos fazer uma parceria com a Secretaria de Meio
Ambiente”.
Secretaria
Municipal de Meio Ambiente
A diretora do Departamento de Preservação e
Licenciamento Ambiental, Ana Paula Mendes Lima, alega que a Secretaria da qual
faz parte é responsável pela manutenção do Meio Ambiente daquela região, mas
nada está sendo realizado devido à falta de recursos. “Temos um projeto de
recuperação da orla do Rio Paraná, naquela região do Jupiá, mas não há verba
para que possamos desenvolvê-lo”.
Departamento
de Agronegócios
Renato Carrato, diretor do Departamento de
Agronegócios, Ciências e Tecnologias, assegura que há um projeto sendo
desenvolvido. “Temos um plano de ação que garantirá, aos pescadores da Colônia
Z3, a conclusão do entreposto pesqueiro. Tempos atrás, solicitamos ao
presidente Antonio que formulasse um ofício, com os valores dos custos para
colocar o local funcionando. Esse documento foi enviado ao SEBRAE, nosso
parceiro, que, em seguida, encaminhou à Petrobrás”, explica.
Conforme a declaração de Carrato, a liberação dos
recursos para a obra de conclusão foi acordada com a Petrobrás, como verba
compensatória pela instalação da Estatal no Município.
“Estamos aguardando a resposta, mas já posso
adiantar que a Petrobrás sinalizou que repassará mais dinheiro do que foi
pedido para a conclusão do entreposto”, finalizou com o que os pescadores
consideraram como um presente pelo seu Dia.