O ministro da Fazenda, Guido Mantega, alertou que os países emergentes já começaram a ser afetados pela crise da Europa. Ele citou a desaceleração do crescimento da China e da Coreia do Sul, além do encarecimento do crédito comercial em razão da situação de liquidez mais apertada do sistema financeiro internacional. Segundo o ministro, esse cenário ainda não se refere ao Brasil, que é menos dependente do cenário externo. “Mas, em algum momento, o Brasil poderá ser afetado”, afirmou durante entrevista coletiva concedida em Paris, ao término da reunião ministerial do G-20.

Mantega acredita que a economia mundial piorou desde o encontro anterior do G-20, em Washington, há algumas semanas. Ratings de bancos e países foram rebaixados e houve redução da confiança nas instituições financeiras. O colapso do franco-belga Dexia trouxe à tona o fantasma do Lehman Brothers. “Mas não acredito em nada parecido, porque já aprenderam a lição de que não se deve deixar quebrar um banco”.

FMI

O Brasil propôs o reforço do Fundo Monetário Internacional (FMI) durante a reunião ministerial do G-20 realizada hoje em Paris, afirmou o ministro. Segundo ele, prevaleceu a avaliação de que o fundo precisa estar preparado para enfrentar um eventual agravamento da crise externa, como diz o comunicado divulgado hoje.

A proposta brasileira defende o uso de acordos de crédito bilaterais para fortalecer o FMI, sem necessariamente a injeção de dinheiro novo. O crédito ficaria à disposição e seria usado caso preciso. Atualmente, o fundo tem US$ 400 bilhões. O reforço do FMI estaria condicionado, conforme Mantega, às medidas europeias para a solução da crise. “É preciso que os europeus primeiro resolvam seus problemas para depois entrarmos (via FMI)”, disse. Segundo ele, o atual cenário de turbulência tem de ser solucionado por meio de medidas vindas da Europa, como o fortalecimento do plano de resgate e a recapitalização dos bancos.

O ministro da Fazenda voltou a dizer que está confiante numa saída para a crise da zona do euro. “Existe uma luz no fim do túnel”. Ao ser questionado sobre a nova posição do Brasil em relação ao FMI, Mantega respondeu: “É mais confortável oferecer do que pedir crédito”.

Controle

O ministro diz acreditar que o G-20 consolidou a avaliação de que é correto impor controles de capital para combater as consequências causadas pelo excesso de fluxo – como fez o Brasil com diversas medidas. “As práticas brasileiras são reconhecidas e podem ser adotadas por outros países”, disse, em encontro com jornalistas ao término da reunião ministerial do G-20, em Paris. Segundo ele, isso dá liberdade aos países que se sentem incomodados pelos efeitos dos fluxos de capital. Prevalece o apoio ao sistema de câmbio flutuante.

Mantega também afirmou que o G-20 está dividido sobre a introdução de uma taxa sobre operações financeiras, como proposto pelos europeus. “É um ponto polêmico, não se chegou a conclusão”, afirmou. “O Brasil já tem o IOF, então não vou dizer que somos contrários e reconhecemos que os bancos têm de pagar tributos, pois são responsáveis pela confusão criada em 2008”.