Enquanto a oposição aposta que o retorno da inflação pode ser o calcanhar de Aquiles do governo da presidente Dilma Rousseff (PT), cientistas políticos e analistas econômicos consultados pela Agência Estado acreditam que a alta dos preços não deve atingir a popularidade da petista, pelo menos nos próximos meses. As primeiras avaliações do novo governo, divulgadas em março e abril, mostraram que Dilma foi bem avaliada por 56% dos entrevistados do Ibope e por 47% dos consultados pelo Datafolha.

“A inflação é um perigo para a popularidade do governo Dilma, mas ainda há tempo para se estancar esse processo”, avaliou o cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Fernando Abrucio. Ele acredita que, enquanto a economia estiver aquecida, o tema será alvo de preocupação apenas entre os economistas. “A inflação é preocupante, mas não é crítica. Dilma vive uma lua-de-mel com os eleitores, a popularidade só será atingida se acontecer algo catastrófico”, avaliou Abrucio.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, também aponta que a inflação pode matar a popularidade de qualquer presidente, mas destaca que a questão principal é o nível. O economista exemplificou com a Argentina: “Mesmo com inflação de 30% e clara manipulação dos índices, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, é popular e pode ganhar a eleição este ano.” No caso brasileiro, ressaltou ele, uma inflação de 6,5% em vez de 4,5% não seria suficiente para prejudicar significativamente a popularidade da presidente, especialmente se outros ganhos ainda são evidentes.

Nesse sentido, o maior risco que Dilma enfrenta, na avaliação de Vale, é o de descuidar da inflação e depois ter que sacrificar muito a atividade para fazer com que os níveis inflacionários voltem para o centro da meta, que é de 4,5%. De todo modo, o economista-chefe da MB Associados aponta que será difícil que a situação inflacionária saia do controle. “Teria que haver uma série de choques de oferta e demanda para isso acontecer”, disse ele. “Enfim, não me parece que a seara econômica infligirá perda de popularidade à presidente. Problemas econômicos graves não me parecem ser o cenário básico que vá atrapalhar seu governo nesses quatro anos”, afirmou.