O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro confirmou nesta terça-feira (29) que o primeiro interrogatório do ex-chefe do tráfico de drogas na favela da Rocinha, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, acontecerá no dia 16 de dezembro. O traficante, que está preso na penitenciária federal de segurança máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, será ouvido por videoconferência.

De acordo com o TJ, serão interrogados na mesma data os réus José Cavalcanti de Souza Filho, o Juca Terror, e Elenio dos Santos –todos respondem por tráfico de drogas e associação ao narcotráfico na ação que tramita na 38ª Vara Criminal do Rio. O interrogatório será conduzido pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce dos Santos.

Um quarto acusado no mesmo processo, identificado como Amaro Pereira da Silva, também foi convocado para prestar depoimento, mas está foragido. No total, a ação tem 38 réus –destes, apenas nove estão presos.

A audiência na qual Nem prestaria depoimento por videoconferência estava marcada originalmente para segunda-feira (28), porém foi cancelada pelo Tribunal de Justiça porque o advogado do traficante não apresentou resposta preliminar.

Antônio Bonfim Lopes foi transferido para o presídio federal de Campo Grande no dia 19 de novembro, assim como outros três integrantes da quadrilha que controlava a favela da Rocinha, na zona sul do Rio:

Anderson Rosa Mendonça, o Coelho; Varquia Garcia dos Santos, conhecido como Carré; e um criminoso identificado como Flávio.

“Xerifa da Rocinha”

A Justiça do Rio negou no último sábado (26) um pedido de relaxamento da prisão de Danúbia de Souza Rangel, a “xerifa da Rocinha”, namorada de Nem.

Ela foi presa na noite de sexta-feira (25), acusada de associação para o tráfico. Segundo o delegado Carlos Augusto Nogueira Pinto, titular da 15ª DP (Gávea), Nem, preso no último dia 10, sustentava a mulher com o dinheiro ilícito.

O pedido de relaxamento de prisão foi apresentado durante a madrugada de sábado ao plantão judiciário. A juíza Renata Pacheco negou a medida.

Danúbia foi transferida da delegacia para o complexo penitenciário de Bangu (zona oeste do Rio).

A “xerifa da Rocinha”, como ela gostava de ser chamada na comunidade, foi presa em delito flagrante, após ser localizada em uma casa em cima de um salão de beleza por homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), e convidada a depor na 15ª Delegacia de Polícia (Gávea). Segundo o delegado Carlos Augusto Nogueira, a jovem responderá por associação ao narcotráfico.

De acordo com o delegado Carlos Augusto Nogueira, a namorada do ex-chefe do tráfico na Rocinha se manteve calada durante o depoimento, afirmando que só falaria em juízo. Em alguns momentos, ela chegou a chorar, porém não deu qualquer tipo de explicação sobre a sua suposta associação ao tráfico de drogas.

Sua irmã Telma de Souza Rangel, que foi encontrada junto com ela, prestou depoimento na condição de testemunha e foi liberada por volta das 22h de sexta-feira (25).

Para justificar a prisão –já que Danúbia não tinha mandado de prisão expedido quando foi encontrada–, Nogueira argumentou que ela recebia presentes comprados com o dinheiro do tráfico, como um carro e artigos de luxo, ostentados em redes sociais.

“Há indícios veementes de crime e por isso pedimos a convolação [transformação] da prisão em flagrante para prisão preventiva a fim de que ela fique mais tempo presa. O estado ‘flagrancial’ é permanente, sempre que você pega um suspeito o delito se consuma. Nesse caso, o de auferir vantagens financeiras para o tráfico de drogas”, disse o delegado. “Ela morava em uma casa de luxo que não poderia ser comprada por quem nem trabalha.”

Ele disse ter baseado sua decisão em depoimentos formais e informais de moradores, em reportagens e nas próprias fotos publicadas na internet por Danúbia.

A namorada de Nem já foi citada ou investigada em três inquéritos na 15ª DP pelos crimes de associação ao narcotráfico, tráfico de drogas e uso de armas de fogo. Todos estão em andamento e nada foi provado até hoje. A prisão em flagrante delito gerou um quarto procedimento, segundo o delegado.

A “xerifa” também já foi investigada pela Polinter por lavagem de dinheiro, em 2009. Na época, os bens materiais dela chegaram a ser confiscados pela polícia, porém ela conseguiu recuperá-los na Justiça.