Quando que um cachorro é capaz de lembrar-se dos sinais com os quais o ser humano se comunica com ele? Partindo desta questão, pesquisadores do Laboratório de Cães do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) realizam um estudo que pode abrir caminho para uma melhor compreensão do funcionamento da memória operacional nesses animais dentro dos processos comunicacionais e, com isso, fornecer informações comparativas para a compreensão da memória do homem.
Apesar de os cães terem uma comunicação especialmente estreita com os seres humanos – superando eventualmente a compreensão que têm os chimpanzés -, ainda sabemos pouco sobre como funciona a memória, principalmente no que diz respeito à interação destes animais com o homem.
“Na prática, a investigação ajudará os donos a descobrirem ou entenderem melhor o quanto e de que forma seu cão lembra-se de certo tipo de informação comunicativa. O maior conhecimento do animal é sempre um aliado para uma relação mais saudável e prazerosa e, consequentemente, para o bem estar do dono e do cão”, afirma Maria Mascarenhas Brandão, uma das responsáveis pela pesquisa.
A proposta desenvolvida pelo Laboratório de Cães é avaliar como esses animais conservam em sua memória os ensinamentos gestuais de seus donos e de que maneira se processa o esquecimento neles. “Nossa pesquisa pretende aliar a capacidade de entender sinais comunicativos e a memória das informações transmitidas”, ressalta Maria, que é orientada pelo professor César Ades. Segundo ela, não há relatos de trabalhos sobre esta questão na literatura científica.
A investigação
Para entender os mecanismos de memória e comunicação, os pesquisadores farão experiências com cães e donos com a proposta de buscar um objeto escondido para detectar traços da memória operacional (memória provisória que é conservada durante a execução de uma tarefa determinada). Maria explica que, no experimento, os cães devem buscar um objeto desejado em dois recipientes possíveis. Com isso, os cientistas pretendem verificar se a memória do gesto que designa onde está escondido o objeto difere da memória do local em que o animal viu ser escondido o objeto. Cada cão será testado em apenas uma sessão, com duração média de duas horas (entre chegada e habituação com os experimentadores, treinos e testes espaçados por intervalos), na própria casa ou em uma sala de testes, e sempre acompanhado pelo dono.
Participação
Os pesquisadores já têm cerca de 30 cães e donos cadastrados, mas voluntários ainda podem se inscrever para fazer parte do estudo. Maria lembra que, além da vontade de conhecer melhor o animal de estimação e contribuir para a construção de conhecimento em uma área de afinidade, os donos devem saber que o experimento é uma grande brincadeira para o cão. “Eles são recompensados com petiscos da preferência e têm toda a atenção e os mimos da equipe de pesquisadores, todos apaixonados por cães também”, declara.
A pesquisa pode ser interrompida caso haja sinais de cansaço, desmotivação ou no momento em que o dono desejar. Para entrar em contato com os pesquisadores, escreva para [email protected]