O Egito disse na quarta-feira que não aceitará interferências nos seus assuntos internos, numa aparente resposta a críticas feitas pela secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, pela forma como as forças egípcias de segurança lidam com mulheres manifestantes.

Em discurso na segunda-feira, Hillary disse que a “sistemática degradação” cometida contra as mulheres “desgraça o Estado”. Raramente autoridades dos EUA usaram termos tão duros contra a junta militar que governa o Egito desde fevereiro.

Manifestações pelo fim imediato do regime militar têm convulsionado o Cairo desde sexta-feira passada, deixando pelo menos 13 mortos e centenas de feridos. Imagens de TV mostrando agressores de soldados contra manifestantes, vários deles caídos, causaram indignação internacional.

Numa das cenas de maior repercussão, os soldados arrastam uma mulher pelo véu que lhe cobre o corpo todo, expondo seu sutiã. A mulher em seguida é agredida com socos e golpes de cassetete.

Milhares de pessoas foram na terça-feira à praça Tahrir protestar contra as agressões, e ativistas convocaram um novo protesto para sexta-feira, a fim de exigir desculpas das autoridades pela violência contra as mulheres.

Depois das críticas de Hillary ao incidente, a agência estatal de notícias Mena divulgou nota do chanceler Mohamed Kamel Amr dizendo que “o Egito não aceita qualquer interferência em seus assuntos internos”.

Amr Rushdi, porta-voz da chancelaria, disse à Reuters que o governo Egito mantém contatos frequentes com outros países, para explicar a transição do regime militar para um governo civil, e para “esclarecer a realidade no terreno e os obstáculos que o país enfrenta durante essa fase de transição”.

Os EUA, que tinham um sólido aliado no deposto presidente Hosni Mubarak, dá ao Cairo 1,3 bilhão de dólares por ano em ajuda militar, um compromisso que começou depois que o Egito se tornou, em 1979, o primeiro país árabe a fazer a paz com Israel.