Dilma quer afastar toda diretoria do Dnit e diz não olhar para partidos
Disposta a continuar a devassa nos Transportes, a presidente Dilma Rousseff vai afastar toda diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec, empresa que cuida das ferrovias. Em conversa de uma 1h20 com cinco jornalistas, ontem, no terceiro andar do Palácio do Planalto, Dilma definiu sua atitude como “ajuste” e disse […]
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Disposta a continuar a devassa nos Transportes, a presidente Dilma Rousseff vai afastar toda diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec, empresa que cuida das ferrovias. Em conversa de uma 1h20 com cinco jornalistas, ontem, no terceiro andar do Palácio do Planalto, Dilma definiu sua atitude como “ajuste” e disse não olhar os partidos de ninguém ao determinar os afastamentos.
“Sairão todos os dirigentes do Dnit e da Valec”, afirmou Dilma, ao ser questionada pelo Estado sobre reclamação de deputados e senadores do PP de que a faxina é “concentrada” naquela legenda. “Estamos fazendo uma renovação. Todos sairão, independentemente de endereços partidários.”
Vestida com um conjunto de calça e blazer pretos, aparentando mais magra, a presidente revelou que não gosta do termo “faxina” para o que vem fazendo nos transportes e o substituiu por “reestruturação”. Apesar da devassa, ela disse que não pretende pôr a política no banco dos réus.
“Não se pode demonizar a política nem a relação com os ministérios”, insistiu Dilma. Desde que surgiram as primeiras denúncias de superfaturamento de obras e cobrança de propina no Ministério dos Transportes, Dilma já afastou 18 pessoas. Caíram o ministro Alfredo Nascimento, secretários e também diretores do Dnit e da Valec.
Substitutos. A presidente não quis revelar quem será o substituto do diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot – que está em férias e é afilhado político do senador Blairo Maggi (PR-MT) – nem de Hideraldo Caron. Filiado ao PT, Caron comandava a infraestrutura rodoviária do Dnit. Pagot chegou a dizer que nenhuma obra era aprovada ali sem o aval do petista.
Dilma contou que enviará ao Congresso uma lista com os nomes dos substitutos dos diretores do Dnit logo na primeira semana de agosto, quando deputados e senadores voltarem do recesso. Em mais de uma ocasião, ela fez questão de assinalar que não está fazendo juízo de valor ao dispensar a cúpula dos Transportes, apesar das denúncias de corrupção. “É preciso ter cuidado porque tem gente que é inocente”, ressalvou Dilma.
Em mais de uma hora de conversa, a presidente abordou vários temas – da inflação ao câmbio, da instalação de banda larga nos estádios para a Copa de 2014 ao programa Brasil sem Miséria – e só tomou água. Estava descontraída, mas cada vez que o assunto Transportes voltava à tona, ela franzia o cenho.
Troco. Diante da insistência dos jornalistas, que queriam saber sua avaliação sobre as ameaças de apoio à CPI dos Transportes, endossadas por partidos aliados, Dilma disse não acreditar em retaliações. “Eu não acredito que deputados e senadores queiram que o governo não funcione”, afirmou a presidente.
Para ela, não existe crise política e muito menos racha na base aliada do governo. “Eu entendo que dá manchete ter crise, mas de que ruptura vocês estão falando? Com quem?”, indagou.
Apesar de afirmar que a “reestruturação” é concentrada nos Transportes, Dilma afirmou que tomará medidas onde a máquina não estiver funcionando. “Eles me botaram aqui para isso”, comentou a presidente.
Aprovação. Pesquisas em poder do Planalto mostram que as ações de Dilma estão em sintonia com a opinião pública e a aproximam da classe média. Ela negou, porém, que esteja agindo para obter apoio em pesquisas.
“Não podemos olhar só o governo, só o Congresso e a sociedade. É função intrínseca do governo impedir que haja conluio em qualquer lugar”, observou. Mais uma vez, Dilma insistiu em que não olha cores partidárias.
“É do jogo que o deputado peça e o governo aceite ou não. Não é porque é do PT que está certo e da oposição que está errado.”
Dilma falou com entusiasmo sobre o programa Brasil sem Miséria, ofuscado pela crise que derrubou o então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e será relançado na segunda-feira, em Arapiraca (AL), agora com o anúncio dos programas Água Para Todos e do Bolsa Verde, com pagamentos de R$ 200 a quase R$ 545 a trabalhadores que protegem o meio ambiente.
No pacote do que considera como sucesso do governo, Dilma também elogiou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), que concederá 75 mil bolsas de estudo no exterior. Ela espera chegar à marca das 100 mil, com ajuda dos empresários.
Aversão. Quando jornalistas perguntaram a Dilma sobre uma das lendas de Brasília, referente à sua aversão à política, ela não se conteve e riu. “Recebi senadores e deputados da base aliada aqui outro dia”, destacou.
“Com alegria?”, quiseram saber os jornalistas. “Com alegria e prazer”, respondeu ela. Um colunista quis saber, por fim, sobre sua fama de distribuir broncas na equipe.
“Meu querido, nós levamos um mês para montar o pré-sal e um ano desmontando. Se as pessoas não forem capazes de aceitar qualquer crítica, fica difícil”, afirmou a presidente.
Depois, despediu-se dos jornalistas. Com beijos e abraços.
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