Cresce número de pessoas que recorrem à prática de aborto em Campo Grande

A cada três dias duas pessoas buscam um grupo de voluntários narrando suas histórias e o desejo de submeter-se ao aborto; as mulheres têm entre 26 e 40 anos e alegam problemas financeiros para não completar o período da gravidez. Fatos recentes tiveram desfechos trágicos: num deles um feto (foto) foi achado em um córrego de Campo Grande

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A cada três dias duas pessoas buscam um grupo de voluntários narrando suas histórias e o desejo de submeter-se ao aborto; as mulheres têm entre 26 e 40 anos e alegam problemas financeiros para não completar o período da gravidez. Fatos recentes tiveram desfechos trágicos: num deles um feto (foto) foi achado em um córrego de Campo Grande

Um grupo formado por voluntários em Campo Grande, recebeu durante o primeiro semestre deste ano aproximadamente 300 ligações de casais de todo o Estado, que procuram por ajuda para fazer aborto, número maior do que o mesmo período do ano passado, onde foram em média 210 telefonemas. 

A maioria das pessoas que tomam esta decisão tem conhecimento dos métodos preventivos, porém não fazem uso e acham que está é uma alternativa, para “se livrar” do filho, que está sendo gerado.

“Somos voluntários que procuramos proteger a vida. O perfil das mulheres que nos procuram tem entre 26 a 40 anos. Elas vêem até nós acreditando que estão com um ‘problema’ e que podemos solucionar, mas o que elas têm que entender é que este fruto é uma criança, uma vida, e não um ‘problema’”, fala a voluntária Ana (*).

A voluntária ressalta que no primeiro contato que tem com estas mulheres, percebem que são pessoas casadas, e que o marido também não quer a gravidez. “A desculpa mais comum desses casais é a questão financeira, mas eles não têm conhecimento do que este tipo de método agressivo pode gerar no corpo e vida de uma mulher”.

“Fazemos exposição disso por meio de fitas e de profissionais capacitados, como médicos e sexólogos. Os homens são os primeiros a não querer mais que a companheira faça, porém nem sempre elas concordam com isso. Muitos já vêm com uma ideia formada sobre a gravidez indesejada e a rejeição pela criança, e eles não aceitam o que a gente fala”, lembra.

Ela ressalta que o número de mulheres que procuram o grupo e assumem que não vão fazer o aborto é pequeno, menos de 50%. “Aquelas que resolvem gerar a criança, tem todo o apoio nosso durante a gestação e até um mês depois. Isso é feito, para que ela agregue o amor a este fruto que está sendo gerado, uma vez que ela não se cuidava e não se planejava”.

Ana explica que, as pessoas que procuram o grupo dão outro nome. “Não tem como a gente saber quem são eles, pois eles nunca falar seus nomes verdadeiros”.

A voluntária lembra que, o grupo ficou sem receber ligações por até três dias depois que encontraram o corpo da acadêmica de ciências contábeis, Marielly Barbosa Rodrigues, 19 anos, em uma mata no município de Sidrolândia – a 64 km a oeste de Campo Grande, e atribuíram a morte dela foi a consequência de uma hemorragia que ocorreu em um aborto mal-sucedido.

“Elas não acreditam que isso pode acontecer, acham que é simples, mas não é. Muitas se arriscam em fazer mistura de ervas caseiras e acabam passando mal, tendo que ser medicada. Algumas que nos procuram admitem que já fizeram isso, como uma alternativa”.

Caso de polícia

Em um mês, a Polícia Civil já registrou três casos de aborto, que tomaram repercussão, em Campo Grande. Eles estão aos cuidados da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios), Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) e Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do bairro Piratininga – região sul da Capital.

“O caso foi entregue a mim na segunda-feira (04), mas estou esperando o laudo do Imol (Instituto Médico Odontológico Legal), para daí dar andamento no processo. Estamos verificando várias linhas, até mesmo de denúncias anônimas, mas preciso do resultado do Instituto”, explica a titular da Depca, Regina Mota, sobre o feto encontrado no domingo (03), no banheiro do Terminal Guaicurus.

O processo sobre a morte de Marielly continua em investigação e em sigilo, pois ainda não foi descoberta a clínica que praticou o aborto, quem teria pagado o método, onde estaria o feto e quem seria o pai.

Já sobre o feto de aproximadamente seis meses encontrado no Córrego Anhanduizinho, na Avenida Ernesto Geisel, na região central de Campo Grande, foi descoberto que foi “fruto” de um aborto praticado por uma mulher de 43 anos, que tem dois filhos e alegou à polícia que, não tinha condição financeira para criar.

(*) O nome da voluntária é fictício e o nome do grupo pró-vida não foi divulgado, para preservar o local.

 

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