O coordenador-executivo da organização não governamental AfroReggae, José Junior, confirmou na madrugada deste sábado, em sua página na rede de microblogs Twitter, que o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, negociava sua rendição com a entidade.

Na rede social, José Junior escreveu que esteve em contato com o traficante até as 22h de quarta-feira (9), horas antes de ele ser preso pela Polícia Militar, negociando a sua entrega.

Em depoimento na sede da Polícia Federal do Rio, Nem confirmou que negociava há cerca de dois meses com o AfroReggae. De acordo com policiais federais, ele não citou qualquer policial civil nas tratativas para a rendição.

Na sexta-feira, o subchefe operacional da Polícia Civil do Rio, delegado Fernando Velloso, afirmou que havia uma negociação para a rendição do líder do tráfico de drogas na favela da Rocinha.

O delegado afirmou que as negociações começaram quando um policial o procurou dizendo que o advogado de Nem havia feito contato, dizendo que o traficante pretendia se entregar.

Segundo o subchefe, horas antes de Nem ser preso pela Polícia Militar ao tentar fugir no porta-malas de um carro, na madrugada de quinta-feira, o advogado do criminoso informou que ele iria se entregar na 15ª DP (Gávea). Os PMs do Batalhão de Choque que efetuaram a prisão disseram que três policiais civis da 82ª DP (Maricá) tentaram evitar que o traficante fosse levado para a sede da Polícia Federal, como estava previsto. “Venho a público esclarecer que os policiais civis estavam em uma missão legítima e legal, que foi autorizada por mim”, disse Velloso.

A prisão de Nem
O chefe do tráfico da favela da Rocinha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, foi preso pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar no início da madrugada de 10 de novembro. Um dos líderes mais importantes da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), ele estava escondido no porta-malas de um carro parado em uma blitz por estar com a suspensão baixa, em uma das saídas da maior favela da América Latina -, que havia sido cercada por policiais na noite do dia 8 de novembro.

Desde o dia anterior, a polícia já investigava denúncias de um possível plano para retirar o traficante da Rocinha. Além de Nem, três homens estavam no carro. Um se identificou como cônsul do Congo, o outro como funcionário do cônsul, e um terceiro como advogado – a embaixada da República do Congo, entretanto, informou não ter consulados no Rio. Os PMs pediram para revistar o carro, mas o trio se negou, alegando imunidade diplomática. Os agentes decidiram, então, escoltar o veículo até a sede da Polícia Federal. No caminho, porém, os ocupantes pediram para parar o carro e ofereceram R$ 1 milhão para serem liberados. Neste momento, os PMs abriram o porta-malas e encontraram Nem, que se escondia com R$ 59,9 mil e 50,5 mil euros em dinheiro.

Nem estava no comando do tráfico da Rocinha e do Vidigal, em São Conrado, junto de João Rafael da Silva, o Joca, desde outubro de 2005, quando substituiu o traficante Bem-te-vi, que foi morto. Com 35 anos, dez de crime e cinco como o chefe das bocas de fumo mais rentáveis da cidade, ele tinha nove mandados de prisão por tráfico de drogas, homicídio e lavagem de dinheiro. Nem possuía um arsenal de pelo menos 150 fuzis, adquiridos por meio da venda de maconha, cocaína e ecstasy, sendo a última a única droga consumida por ele. Com isso, movimentaria cerca de R$ 3 milhões por mês, graças à existência de refinarias de cocaína dentro da favela.