Apesar de o Governo Estadual gastar dinheiro público com propaganda para destacar ‘excelência do Hospital Regional’, 2.610 pacientes de todo Mato Grosso do Sul buscaram tratamento em Barretos somente em 2010.
Pacientes das cidades mais distantes do MS, em relação à cidade de Barretos, engrossam a romaria que cresce todo o ano em busca de tratamento de excelência e humanizado, como deve ser especialmente em caso de câncer.
Dourados, Ponta Porã, Porto Murtinho e mais outras 72 cidades compõem a relação fornecida à reportagem do Midiamax em primeira mão pela assessoria do hospital do Câncer de Barretos. Os 2.610 pacientes geraram 24.109 atendimentos no ano passado, porque cada um deles faz mais que uma viagem por ano ao interior de São Paulo.
De Campo Grande a Barretos são 11 horas de viagem.
Pacientes do norte do MS, mais próximos de Barretos que os demais, poderiam buscar tratamento em Três Lagoas, um dos municípios pólos que seria referência para o tratamento de câncer na região. Mas eles sabem que os pacientes de Três Lagoas estão em meio a um protesto contra a falta de atendimento ao câncer na cidade. A cidade envia 349 pacientes para Barretos.
Hospital Regional perdeu qualificação
Na verdade, nos últimos quatro anos, o HRMS vem perdendo a qualificação que possuia até 2007, como Centro de Alta Complexidade em Oncologia, com radioterapia, ao invés de expandir o tratamento para o nível de excelência, caso houvesse investimento e planejamento por parte do governo do MS.
Já em 2008, o HRMS teve esvaziado o seu credenciamento em radioterapia, que passou a ser realizada pela Neorad, uma clínica privada fundada em julho de 2007, na qual o governo Puccinelli injetou milhares de reais para que a empresa assumisse o que cabia de direito ao HRMS – o atendimento do SUS. Desde então, a Neorad integra a Rede Oncológica do estado, como agente isolado. Mas não fornece acompanhamento psicológico e social aos pacientes, como manda o Ministério da Saúde.
Mais recentemente, outro importante hospital público, o Hospital Universitário da UFMS, interrompeu o atendimento em Oncologia, curiosamente, após receber no final do ano passado R$ 217.510,00 da Secretaria de Estado de Saúde para a aquisição de equipamentos de radioterapia.
Coincidentemente, quem também decidiu o fechamento da Oncologia do HU por falta de equipamentos foi seu diretor, o médico Adalberto Abrão Siufi, um dos diretores da Neorad.
Além disso, o Hospital Regional até poderia receber do Ministério da Saúde um novo equipamento chamado Acelerador Nuclear, para retomar a radioterapia, mas a Fundação de Saúde – Funsau – que dirige o hospital, precisaria apresentar um “Plano Operativo Anual” para recebê-lo.
As consequências imediatas dessa situação foi a formação de uma grande “fila” de pacientes oncológicos que esperam o tratamento de radioterapia e a superlotação do Hospital do Câncer Alfredo Abrão, privado, mas credenciado para atender pacientes do SUS.
Ministério Publico Federal protestou contra repasses para a Neorad
Durante reunião com os representantes da Secretarias Estadual de Saúde (SES) e Municipal de Saúde (Sesau), em 25 de outubro do ano passado, MPF informou que o MS tinha 166 pacientes na fila de espera para a radioterapia. Na época, a Neorad recebia R$ 70 mil por mês para atender 17 pacientes pelo SUS.
Com a divulgação do número, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Felipe Fritz Braga, afirmou que “o paciente oncológico que precisa de radioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS) de Mato Grosso do Sul está nas mãos de instituições privadas. Se não quiserem ou não puderem atender, o paciente tem de viajar para outros estados”.
Por conta da fila, em 17 de novembro do ano passado, o repasse de verbas públicas para a Neorad passou de R$ 70 mil para R$ 270 mil por mês. Quando o procurador recebeu a notícia, aceitou-a como medida temporária, declarando, taxativamente:
– É necessário investir na oncologia de hospitais públicos. Temos aqui o Hospital Regional e o Hospital Universitário – o que é que tem sido feito para criar ali uma radioterapia de ponta? Nada. Estado e município pagarão para clínica particular um montante que, ao longo de poucos anos, lhes permitiriam montar toda a estrutura necessária para o funcionamento de uma radioterapia em hospital público”.
Governo não investe e romaria para Barretos aumentou
De lá para cá, não houve o investimento esperado na radioterapia do HR, e o número de pacientes que buscam tratamento em um só no hospital de Barretos chegou a uma dimensão inimaginável.
Somando os dados oficiais fornecidos pelo Hospital do Câncer de Barretos, de 2006 a 2009, o número de pacientes chegou a 11 mil. Só em 2010 são 2.610. O ano de 2011, até o primeiro semestre, ainda não está contabilizado pelo Hospital de Câncer de Barretos.
A reportagem localizou a paciente E. B. P. de Paranaíba, que pertence a uma família com predisposição genética para a doença. Ela contou que o pai, o irmão e ela foram se tratar em Barretos porque, em 2008, o pai tentou tratamento em Campo Grande sem conseguir.
“ Iria demorar muito e meu pai não podia esperar. Fomos com a assistente social de Paranaíba até a Capital, mas não adiantou nada. Então fomos pra Barretos, os três. Meu pai faleceu, eu tive alta e meu irmão está em tratamento, melhorando. Lá é muito bom”, concluiu.
Confira no arquivo abaixo a lista das cidades que têm pacientes que vão a Barretos (SP):