“A Casa tem que trabalhar de maneira harmônica, mas sem subserviência ao Poder Executivo. Não é porque chegou um projeto do governo que ele tem que ser aprovado. Temos que discutir as matérias pensando na população”, disse.

Reeleito no dia 3 de outubro para seu quarto mandato de deputado estadual, Pedro Kemp (PT), anunciou hoje na Assembleia Legislativa que pretende concorrer ao cargo de presidente da Casa de Leis no ano que vem. Atualmente, ele já figura na Mesa Diretora como primeiro vice-presidente. Durante conversa com os jornalistas, ele mencionou as razões pelas quais quer concorrer ao cargo mais importante do Legislativo.

“Vou colocar meu nome para um debate. A Casa tem que trabalhar de maneira harmônica, mas sem subserviência ao Poder Executivo. Não pode ser uma correia de transmissão do governo. Não é porque chegou um projeto do governo que ele tem que ser aprovado. Temos que discutir as matérias pensando na população”, disse. A eleição da nova Mesa Diretora deve ocorrer em fevereiro de 2011.

Kemp é um atuante opositor ao governo de André Puccinelli (PMDB) na Casa de Leis. Neste ano, chegou a sofrer uma ameaça de interpelação judicial após questionar na tribuna, o preço de agendas escolares cujo valor nas notas de remessa enviadas às escolas estava errado e era bem superior ao custo real.

A Assembleia enfrenta um período de turbulências devido à divulgação de vídeo no qual o primeiro-secretário da Casa de Leis, deputado estadual Ary Rigo (PSDB) detalha suposta partilha de dinheiro público entre membros dos três poderes de Mato Grosso do Sul. Rigo não foi reeleito.

Kemp diz que não teme postular o cargo num momento de fragilidade da Casa de Leis perante a opinião pública. Ele avalia que a ocasião pode ser propícia para se discutir o Poder Legislativo.

Sem subserviência

No segundo governo de Zeca do PT entre 2003 e 2006, Kemp ocupou o posto de líder do governo na Casa de Leis. Ele cita que na ocasião cumpria com a tarefa de defender o governo estadual, mas não o fazia com subserviência. “Eu atuei com independência e cheguei a discordar do governador várias vezes”, relembra.

O petista é o primeiro a assumir publicamente, em entrevista coletiva, o interesse em concorrer à presidência da Assembleia. Antes dele, o deputado Londres Machado (PR) que já presidiu a Casa sete vezes, admitiu querer o cargo, mas o fez em tom de brincadeira. Por enquanto, ele não admite a possibilidade abertamente.

Tradicionalmente, a influência do governador é decisiva para a eleição da Mesa Diretora do Poder Legislativo. O presidente da Casa é o segundo nome da linha sucessória ao governo do Estado, ou seja, em caso de licença ou de afastamento do governador e do vice é o presidente da Assembleia quem assume. Por isso, existe a preocupação do chefe do Poder Executivo em participar da escolha de alguém de sua confiança.

“Se existe esta tradição [do governo interferir no comando do Legislativo] está na hora de mudar isso. Temos que debater a relação harmônica, porém independente entre os poderes”, propõe o parlamentar.

PMDB x Oposição

Atualmente, a Casa é presidida pelo deputado estadual Jerson Domingos (PMDB) que reeleito não manifestou até agora interesse em disputar o cargo no ano que vem. Porém, já foi divulgado que o PMDB, partido do governador, vai querer sim continuar presidindo a Casa de Leis na próxima legislatura.

O partido elegeu a maior bancada de parlamentares para a próxima legislatura com seis nomes, daí achar que tem força para permanecer no posto. O grupo de Puccinelli, aliás, conquistou 17 das 24 cadeiras da Assembleia. A chapa de oposição liderada por Zeca do PT elegeu sete.

Kemp ainda não sabe se contará com o apoio dos outros seis colegas eleitos na oposição. “Todo mundo acha que é muito cedo para se discutir o assunto”, conta. Se não conseguir parcerias para montar uma chapa completa aos sete cargos da Mesa Diretora, uma possibilidade, já mencionada pelo petista é lançar candidatura avulsa como prevê o artigo 10 do Regimento Interno da Casa de Leis.

Currículo

Pedro Kemp eleito vereador em 1996, exercendo o mandato em 1997 e 1998, deixando a Câmara Municipal para concorrer ao parlamento estadual. No Executivo, nos anos de 1999 a 2001, ocupou o cargo de Secretário de Estado de Educação.

Ele ocupou a vaga de deputado estadual em 2002 por ser suplente na coligação de seu partido, após a renúncia do deputado Laerte Tetila, eleito prefeito de Dourados. Na Legislatura passada,  foi líder do governo Zeca do Estado na Casa. Ele foi reeleito em 2006 e agora em 2010 conquistou mais um mandato. O currículo está disponível na íntegra no site da Assembleia Legislativa.