Mãe “Hory” de 89 anos cuida da filha de 70 que não fala e não anda

Conceição de Oliveira foi mãe aos 19 anos. A filha, portadora de deficiência é hoje na terceira idade sua companhia. Elas moram no Estrela ‘Hory’ , em Dourados

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Conceição de Oliveira foi mãe aos 19 anos. A filha, portadora de deficiência é hoje na terceira idade sua companhia. Elas moram no Estrela ‘Hory’ , em Dourados

Conceição é uma “Mãe Hory” e há setenta anos carrega no rosto um sorriso. É alegre. É feliz. Nem mesmo a desventura de gerar uma filha que não anda e não fala fez dela uma mulher menor. É uma grande mulher que hoje aos oitenta e nove anos de idade ainda acredita que o mundo poder ser melhor.

Conceição de Oliveira há 79 anos habita o planeta Terra e respira alegria e felicidade assim como a tradução literal da palavra “Hory” da Língua Guarani emprestada par dar nome ao bairro Estrela Hory em Dourados onde mora.

Dos setenta anos em que carrega nos braços sua filha, Conceição está há sete “ubicada” na rua Projeta C do Estrela Feliz inspirando a relva do bosque de margeia a frente de sua casa. Espera inspirada na fé que ainda credita nas pessoas que o matagal do bosque seja limpo.

Um estrela brilhante. Assim é Conceição que mora sozinha com a filha sorridente. Ela conta que teve nove filhos. Quatro morreram quando ainda eram crianças. Quatro cresceram fortes, casaram-se e tiveram filhos e netos. A vovó octogenária ficou viúva aos cinquenta anos de idade e de lá prá cá “casou” ternamente com a filha deficiente. Eficiente é a moça de setenta anos que entende tudo o que acontece à sua volta: é uma companheira fiel. Conceição pede a Deus que não a leve para a eternidade antes que sua filha. “Que poderá salvá-la quando eu partir”, soluça a mãe.

São suas mulheres idosas que vivem num bairro que deveria oferecer acessibilidade e garantias mínimas de convivência. Sofrem, mas regozijam a cada novo alvorecer. Afinal elas não são duas mulheres na terceira idade. São duas meninas que brincam de boneca e brincam de aprender e a ensinar a e viver. Vivem cada dia como se fosse o último. Vivem intensamente.

1940. O verão fustigava a pequena “Princesinha dos Ervais” na fronteira com Pedro Juan Caballero. Ponta Porã vicejava em forma de erva-mate enquanto Conceição aos dezenove anos de idade fazia as tarefas domésticas carregando aquele barrigão prá-lá-prá-cá. Cheia de alegria esperar o nascimento da sua primeira semente.

Era o dia 12 de janeiro. Nasce Evanildes Oliveira Braga, filha de Conceição e do brasiguaio Ramão. A menina nunca falou. Nunca andou. Envelheceu nos braços da jovem mãe. Conceição envelheceu só na aparência. O viço da mocidade está em seus olhos.

Evanildes está com setenta anos e como a mãe forma um dueto de velinhas simpáticas que esperam o asfalto na rua onde mora, a rede de esgoto, o ponto de ônibus, as rampas, os telefones públicos adaptados, ônibus com plataforma de elevação para as cadeiras de rodas e que o benefício da LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social) seja perene como o amor cantado pelo “poetinha”.

Conceição para encerrar todo tipo de conversa e ilações sobre a idade da filha exibe a certidão de nascimento de Evanildes. Escrita à mão numa finíssima letra azul lapidada pelas mãos de um hábil escrivão numa daquelas canetas tinteiro que devem estar perdidas nos “achados” de algum descendente do escrita oficial quando Ponta Porã dizimado do antigo Mato Grosso era um “Território Federal

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