O governo do presidente paraguaio Fernando Lugo selou nesta terça-feira uma nova renovação na cúpula militar do país, ao anunciar a substituição do comandante das Forças Armadas, Juan Oscar Velázquez, pelo general Benicio Melgarejo.
A renovação – a quarta promovida por Lugo desde que assumiu, em 2008 – começou na véspera, com a substituição dos chefes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, e provocou comoção em alguns setores, já que seus motivos não estão totalmente esclarecidos.
O governo também trocou o comando de cerca de 20 altas instâncias militares, como o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, o Instituto de Altos Estudos Estratégicos e a Academia Militar. Alguns dos comandantes substituídos estavam há menos de um ano nos cargos.
Em discurso à nação nesta terça-feira, Lugo disse que as trocas fazem parte de “processos rotineiros de renovação” e que respondem somente à “simples necessidade de produzir mudanças” e promover oficiais, sem dar mais detalhes.
No entanto, as ações do governo geram especulações quanto a um excesso de interferência do Executivo nas Forças Armadas ou mesmo quanto a um complô militar. Na troca de comando anterior promovida por Lugo, em novembro de 2009, o presidente citara “pequenos bolsões golpistas” entre os militares.
Questionamentos
O senador oposicionista Alfredo Luis Jaeggli disse à imprensa paraguaia que pedirá no Senado explicações sobre as mudanças.
“Talvez (Lugo) tenha razão, talvez não. Mas há um complô contra o presidente da República? É a única (explicação). Mas nós não sabemos de nada”, disse ao jornal ABC Digital.
Ex-comandantes militares paraguaios – eliminados em trocas de comando anteriores – criticaram as ações de Lugo, alegando que o presidente “joga com a dignidade das Forças Armadas” e produz “efeitos adversos” na instituição.
Especialistas ouvidos pela BBC Mundo descartam o risco de um golpe militar no Paraguai e dizem que as Forças Armadas não vivem atualmente o momento de instabilidade que viveram em novembro passado, quando Lugo anunciou a maior mudança na cúpula militar na história do país.
O presidente, que assumiu em 2008 após seis décadas de governo do Partido Colorado, passa por um momento de fragilidade política e de saúde.
Ele está em tratamento contra um câncer no sistema linfático e, neste ano, já teve de enfrentar, entre outros problemas, acusações de conivência com o grupo esquerdista EPP (Exército do Povo Paraguaio) e processos de paternidade que remetem ao período em que era bispo da Igreja Católica.
Seu novo comandante das Forças Armadas, Benicio Melgarejo, ocupava até hoje a chefia do Gabinete Militar da Presidência.