Lavagem da escadaria da Matriz marca união das religiões em Corumbá

“O ano de 2010 foi um ano extremamente sofrido, pois Oxum, regente, estava muito revoltado com os homens e suas ações. Não apenas contra a natureza, mas também com o próximo. Tivemos grandes desastres da natureza e tantas barbaridades realizadas pelo próprio homem que este foi um ano difícil.

Hoje, lavamos a escadaria da Igreja Matriz de nossa cidade, pedindo que o ano que se encerra leve todas as mágoas e que Iemanjá, regente de 2011, abra as portas para um ano cheio de glória e realizações”, disse ao Diário, o pai de santo Clemilson Medina, delegado das religiões de matrizes africanas do Centro-Oeste, conhecido por Babalorixá de ZazyLakum.

O ritual da lavagem da escadaria aconteceu na noite desta quinta-feira, 30 de dezembro, após a celebração da missa de final de ano na Igreja Nossa Senhora da Candelária. Centenas de pessoas participaram da celebração. Além de Corumbá, a lavagem da escadaria, ocorre também na Bahia, porém, lá as portas da igreja se fecham para o ato “Há sete anos o Catolicismo e o Candomblé se unem para rezar juntos, vivenciando a paz. O ritual da lavagem da escadaria é a união entre as religiões, que apenas rogam ao pai pela harmonia entre os homens. A paz brota dos corações e quanto mais nos unirmos para rezar, mais perto da paz chegaremos. Hoje é um dia de alegria e de muita oração. Diferente da Bahia, enquanto estiver nesta igreja, irei manter sempre as portas abertas durante a Lavagem, pois a porta da casa de Deus está aberta a todos que buscarem a palavra”, explicou o padre Celso Ricardo da Silva a este Diário.

A lavagem da escadaria é embalada pelo toque dos atabaques e a cantoria dos homens. Somente as mulheres podem lavar e perfumar as escadarias com água de cheiro e os ramos de plantas. “Para nós, a lavagem é um momento de muito respeito, de muita oração. Hoje, estamos lavando todas as impurezas e desavenças que ficaram neste ano, para que iniciemos 2011 com o coração aberto a todas as coisas boas e pedindo que tenhamos êxito em nossas ações”, disse Maria Lúcia Melgar, Equêde de santo (aquela que é responsável pelas oferendas).

Para aqueles que participaram da missa e acompanharam a lavagem da escadaria, este foi um momento de muita fé e união. “Todos os anos faço questão de vir à missa e depois ficar para a lavagem da escadaria, pois é muito bonito e também gratificante ver a união dos povos, das religiões, em um único propósito, que é o bem-estar de toda nossa população. Me sinto muito bem em acompanhar todo esse ritual, afinal, é a cultura de nosso povo e temos que celebrar e cultivar, para que as gerações futuras possam conhece e perpetuar essa paz de espírito e essa visão de que somos diferentes, mas também somos capazes de conviver e de nos respeitar”, afirmou Cristina Fernandes, 57 anos.