O programa Fantástico, da TV Globo, conversou com a ex-mulher do goleiro Bruno, Dayanne Souza. Ela vai a júri popular por sequestro e cárcere privado do filho de Eliza Samudio. A ex-namorada do atleta foi morta, segundo o Ministério Público, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em junho deste ano. Dayanne e outros três réus do caso Eliza foram soltos pela Justiça na sexta-feira (17), depois de ficarem mais de cinco meses presos.

Na entrevista, Dayanne contou que esteve com Eliza no sítio do goleiro, em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 10 de junho, dia em que, segundo a polícia, a jovem foi morta. “Ela tava bem. Ela não pediu, não chegou perto de mim pra pedir socorro”, relata. A ex-mulher afirma ainda que foi Bruno quem pediu que ela cuidasse do filho de Eliza e lhe entregou a criança.

Dayanne, de 23 anos, foi casada por seis anos com o goleiro e diz que há dois anos está separada. O casal tem duas filhas – de 2 e de 4 anos. Segundo ela, o motivo da separação foi infidelidade. “O Bruno era muito infiel, muito baladeiro, gostava da noite. Isto foi pesando um pouco. Aguentei até por um certo tempo, mas depois ficou muito difícil.”

Sobre o tempo em que esteve presa no Complexo Penitenciário Estevão Pinto, em Belo Horizonte, Dayanne conta que ficou 57 dias isolada em uma cela e depois foi para o alojamento. Ela relatou que nunca foi molestada ou hostilizada pelas outras detentas. “De maneira alguma. Eu tive muita ajuda, elas me ajudaram bastante”, diz. “Achei que ia ser totalmente diferente do que foi. Pensei que ia ser bem mais difícil. Foi muito. Mas, pelo fato de elas me ajudarem, foi um pouco melhor.”

Dayanne também contou sobre a relação com suas filhas enquanto estava presa. “Os momentos mais tristes eram quando as minhas filhas iam na visita. Era um dia em que eu renascia e morria ao mesmo tempo. Quando eu via as minhas filhas, para mim era tudo, dava aquele ânimo. Mas, na hora de elas irem embora, eu desmontava. Quando minha filha estendia os braços para mim e falava ‘não, mamãe’, acabava comigo por dentro”, detalha.

Sobre a hostilização do público quando era levada para audiências, Dayanne disse que tinha medo. “O pessoal gritar assassino… era muito triste você ser chamado de assassino”. A jovem diz que temia o que poderia acontecer se fosse libertada no começo do caso Eliza. “A população ficou muito revoltada.”

Machucado no dedo de Eliza

A polícia afirma que Eliza foi morta na madrugada de 10 de junho, mas Dayanne diz que almoçou com a jovem naquela data, no sítio de Bruno. “Ela tava bem. Ela não pediu, não chegou perto de mim pra pedir socorro. Não chegou perto de ninguém pra pedir socorro”, afirma. “Ela estava normal. A única coisa é que ela estava com um machucadinho no dedo. Eu perguntei sobre esse machucado e ela falou que havia prendido o dedo na porta. Não falou que fulano, beltrano ou cicrano a agrediu, em momento algum.”

De acordo com Dayanne, as duas pouco conversaram. “Não sei se ela ficou com um pouco de vergonha… não sei. Brigar? Em momento algum. A gente almoçou junto, inclusive na hora do almoço ela me ajudou num prato. Mas brigar, não. Até porque não tem motivo.”

“Bruno pediu que eu cuidasse do bebê”

Segundo a ex-mulher, Bruno lhe entregou o filho de Eliza e pediu que ela cuidasse da criança. “No momento, ele falou que ela tinha ido pra São Paulo e pediu que o Luiz Henrique [Ferreira Romão, o Macarrão] entregasse o bebê pra ele e mandou ele se virar. As palavras dele foram essas”, relata Dayanne. “Ele chegou perto de mim chorando, pedindo que eu cuidasse do bebê, que ele não sabia como retornaria pro Rio com a criança. Ele voltou para o Rio de ônibus, em decorrência do jogo que teria lá, e não tinha como [a criança] retornar com ele dentro do ônibus.”

Dayanne diz ainda que ouviu de Sérgio Rosa Sales, o primo de Bruno e também preso pela acusação de envolvimento no crime, que o bebê de Eliza poderia ter sido morto por Macarrão.  “Ele falou pra mim: Dayanne, você tem que ficar tranquila porque, se você não tivesse pegado, aceitado olhar o bebê na noite do dia 10, a intenção do Luiz Henrique era eliminar a criança. Eu não sei o que ele quis dizer com essa palavra ‘eliminar’”, afirma.

Com a acusação de sequestro do bebê e de tê-lo mantido em cárcere privado, Dayanne diz que não concorda. “Eu recebi um pedido. O Bruno fez um pedido, pra eu cuidar da criança. Não vejo sequestro. Foi um pedido dele. Eu não arranquei ele [o bebê] dos braços dela. Não arranquei dos braços do pai”, afirma. Questionada se acredita na inocência do goleiro, Dayanne responde: “O único homem inocente que pisou nessa terra foi Jesus. Ele morreu na cruz. O Bruno, por mais que fosse… Eu nunca vi esse lado ‘assassino’”, diz, fazendo o sinal de aspas com as mãos.

Além de Dayanne, também vão responder ao processo em liberdade. O júri popular dos oito acusados pode ser marcado somente para 2012. “Só de estar aqui hoje já é uma resposta muito grande para muita coisa. Tenho certeza de que vou sair dessa, bem.” A jovem diz que tem a consciência tranquila: “Consigo deitar no travesseiro e dormir uma noite de sono tranquila, graças a Deus”.

Sobre Bruno, afirma: “Se ele cometeu [o crime], tem que pagar. Se ele precisar de mim, da minha ajuda, vou estar do lado dele.”

Entenda o caso

Em 2009, Eliza teve um relacionamento com o goleiro Bruno, engravidou e afirmou que o pai de seu filho é o atleta. O bebê nasceu no início de 2010 e, agora, está com a mãe da jovem, em Mato Grosso do Sul. O corpo de Eliza não foi encontrado.

A Justiça de Minas Gerais aceitou a denúncia do Ministério Público contra Bruno e outros oito envolvidos no desaparecimento e morte de Eliza e, a pedido do MP, decretou a prisão preventiva de todos os acusados.

Na madrugada deste sábado (18), Dayanne, a ex-namorada de Bruno, Fernanda Gomes de Castro, o caseiro do sítio, Elenílson Vítor da Silva, e Wemerson Marques, o Coxinha, foram soltos e responderão em liberdade. O goleiro Bruno, o amigo Macarrão e o primo Sérgio continuam presos e vão a júri popular por sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também está preso e vai responder no júri popular por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.