Kabril Yussef foi libertado hoje por não pagar pensão à filha; TJ mandou soltá-lo sem que ele quitasse a conta. Decisão será contestada

Decisão do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) que libertou hoje o cônsul da Síria em Campo Grande, Kabril Yussef, 56, preso dois dias atrás por não pagar uma pensão à filha no valor de R$ 74 mil, foi duramente criticada pela ex-mulher do diplomata, Crenilda Fátima. “A decisão do Tribunal de Justiça sul-mato-grossense é vergonhosa. Esse é o único estado brasileiro onde quem não paga pensão alimentícia não vai para a cadeia, uma lástima”, disse ela. O TJ-MS, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não ia se manifestar.

Yussef foi preso na quarta-feira feira por determinação do juiz Luiz Cláudio Bonassini, da 3ª Vara de Família e solto hoje por meio de liminar concedida pelo desembargador plantonista Carlos Contar. Ele não precisou pagar a dívida. A advogada que defende Crenilda, Juliana Rossi Gulido prometeu recorrer da decisão na segunda-feira.

Por telefone, do Rio de Janeiro, onde mora com a filha de dez anos de idade, Crenilda disse ao Midiamax que é a terceira vez que o cônsul Sírio, com quem viveu casada 26 anos e teve quatro filhos, conquistou uma decisão favorável no TJ. “Quem não paga pensão e não quer ir para a cadeia que vá para Campo Grande, lá o Judiciário é um fracasso”, protestou Crenilda, separada há cinco anos de Yussef. 

A ex-mulher do diplomata disse que briga pela pensão da filha dura pelo menos três anos e até agora “não conseguiu que a justiça fosse feita”. Até junho passado, a Justiça havia fixado em 11.3 salários mínimos o valor da pensão alimentícia.

“Virou uma bola de neve: a primeira instância manda ele [Youssef] pagar a pensão e o TJ desmancha a decisão. Ele apresenta atestado médico até para faltar a audiência, um absurdo. Isso rola faz tempo, é uma impunidade que não consigo entender. Até o Romário [ex-craque da seleção brasileira de futebol] foi preso, e aí em Campo Grande o cônsul da Síria impõe a lei do Oriente e fica impune. Um descaso, absurdo”, disse ela.

O caso

Em junho passado, a Justiça calculou que o cônsul devia R$ 74 mil de pensão. Quarta-feira passada o juiz Luiz Cláudio Bonassini, da 3ª Vara de Família, mandou prender o diplomata, que teria dificultado o cumprimento da decisão. O Oficial de Justiça e os policiais militares só entraram no consulado com a ajuda de um chaveiro. Youssef estava num dos cômodos da casa. Dali, por volta das 14h, ele foi levado para o 4º Distrito Policial (Moreninhas).

Na madrugada, por sustentar que a pressão arterial havia subido demais o cônsul foi transferido para o hospital El Kadri.

Na manhã seguinte o diplomata quis negociar a dívida, pagando a quantia fixada em junho ano passado, pouco mais de R$ 74 mil. Mas a ex-mulher não concordou e quis o valor reajustado, perto de R$ 90 mil. Hoje cedo, ele foi libertado sem pagar a conta.