Guilherme perdeu o movimento nas pernas depois de um assalto. Voltava pra casa à noite, a pé e sozinho. Quando levou um tiro, tentou correr e foi baleado mais quatro vezes. “Corri, tentei pegar o celular, mas mesmo assim eles me deram mais quatro tiros. Acho que eles pensaram que eu estava armado, que eu ia reagir”, conta Guilherme Santos do Carmo, auxiliar de produção.

Um consultor em segurança explica como é a ação do ponto-de-vista do bandido.

“O bandido ele cria um roteiro de trabalho que tem que ser rápido e bastante eficiente pra ele. Você não pode se indispor a interromper esse roteiro, porque você vai criar um desconforto, que pra ele significa mais adrenalina, você vai tornar essa situação mais perigosa do que está”, explica José Vicente da Silva Filho, consultor em segurança.

Ele dá exemplos de como evitar que um assalto acabe mal. “É bom mostrar tranquilidade, e que você não está disposto a reagir. É conveniente manter as mãos na direção, fazer um sinal de que vai abrir o vidro. Sem olhar para a cara dele, para ele não ficar incomodado de que você possa reconhecê-lo posteriormente. Avise que está retirando o cinto de segurança, avise que vai pegar a carteira e entregue para ele. Não tente negociar miudezas nesta hora, como ‘deixe eu ficar pelo menos com a minha carteira de habilitação ou identidade’. Não tente negociar, porque você rompe um comportamento que o bandido não espera ser rompido. Depois, ao sair do veículo, saia indo para trás que é a saída mais rápida que você tem, pela frente é mais complicado. Saia com a mão sempre visível, dê as costas para o bandido e saia rapidamente”, orienta.

Ter sangue frio numa situação de ameaça é como lutar contra o próprio corpo. Nós somos animais e nossa reação natural é outra. Quando somos ameaçados, num assalto ou sequestro, por exemplo, nosso organismo libera adrenalina.

Esse hormônio diminui a circulação de sangue no cérebro, o que atrapalha nossa capacidade de raciocínio. Ao mesmo tempo, aumenta a quantidade de sangue nos músculos, preparando o corpo para uma reação instintiva, como qualquer animal: reagir ou fugir.

Ou seja, nosso corpo tenta fazer tudo aquilo que nós não devemos fazer nesse tipo de situação. E a personalidade de cada um também determina a forma de agir.

“Existem pessoas que são mais impulsivas, e que sem avaliar o tamanho do perigo, sem avaliar o que está acontecendo a resposta dela é de agressão”, explica Eduardo Ferreira Santos, psiquiatra.

Segundo o psiquiatra, uma forma de se preparar para uma situação de risco é ser mais tranquilo no dia-a-dia e se apegar menos aos bens materiais. “Parece que aquele objeto é a própria vida da pessoa, por exemplo, o carro. Não têm esse discernimento na hora que é a própria vida está em jogo, porque o carro é a própria vida”, diz.