Na mesa “Promessas de um velho mundo”, realizada nesta sexta-feira (6) a FLIP fez o que a diplomacia acha difícil: reunir Irã e Israel. Mas Azar Nafisi, escritora iraniana auto-exilada nos Estados Unidos desde 1993, não pode ser considerada uma representante oficial do país hoje, cujo governo ela critica severamente.

Por isso mesmo, a autora de “Lendo ‘Lolita’ em Teerã” e “O que eu não contei” se sentiu à vontade para participar de um debate com A.B.Yeoshua, escritor atuante na vida pública de Israel – apresentado pelo mediador Moacyr Scliar como autor de nada menos que 78 livros, entre eles “As cinco estações”, “A mulher de Jerusalém” e o recente “Fogo amigo”, sobre um pai que perde o filho na guerra e reflete sobre o que é ser judeu (o livro foi lançado no Brasil pela Companhia das Letras).

Scliar pediu a opinião de Nafisi sobre o noticiário recente envolvendo o Irã e o presidente Mahmoud Ahmadinejad. A escritora aproveitou a deixa para criticar o líder e as leis repressivas em vigor no Irã.

“O Irã foi o primeiro país da Ásia a ter uma Constituição e chegou a mulheres à frente de Ministérios. Hoje livros são proibidos, e mulheres são condenadas ao apedrejamento por adultério. Sei que o presidente Lula disse que não é papel dele interferir nesse assunto, mas o fato é que, ao não interferir, ele já está interferindo. Não existe inocência neste mundo”, disse a escritora.

Aplaudida de pé, Nafisi foi além: “Não é essa mulher a quem Lula oferece asilo que está incomodando Ahmadinejad, é ele que a está incomodando ao condená-la a morte. E digamos que ela venha para o Brasil. Todas as pessoas na fila do apedrejamento, as dezenas de jornalistas presos, as jovens encarceradas por usarem batom, todas as pessoas que incomodam Ahmadinejad terão que vir também para o Brasil, ou seja, 80% população. Não entendo como um democrata pode ser amigo de um inimigo da democracia. Apoiar Ahmadinejad vai contra a própria convicção de Lula de que não deve existir pena de morte.’