O primeiro relatório sobre a situação do Hospital de Caridade de Corumbá foi apresentado esta semana, pela Junta Interventora, ao prefeito Ruiter Cunha de Oliveira. A instituição hospitalar está sob intervenção pública desde o dia 12 de maio. O documento traz detalhes da situação em que o grupo encontrou o hospital; as providências já tomadas, e como está o serviço no único hospital da região, responsável pelo atendimento de uma população estimada em 150 mil pessoas residentes em Corumbá, Ladário e cidades bolivianas da linha de fronteira.

“A situação do hospital era crítica, mas já podemos observar uma profunda mudança”, disse o presidente da Junta Interventora, Lamartine de Figueiredo Costa. Durante a apresentação do relatório ao prefeito, Lamartine citou os problemas encontrados e as ações desenvolvidas para solucioná-los. “Faltavam medicamentos e materiais de procedimentos. O primeiro passo foi investir R$ 489.172,41 na compra de medicamentos e materiais, além de manter o efetivo controle dos estoques na farmácia, por meio de um sistema informatizado”, relatou.

Foram adquiridos produtos e alimentos adequados e o cardápio foi readaptado e variado, elevando a qualidade da alimentação servida, com redução de gastos em torno de 17%. Hoje, o prato do paciente do SUS é igual ao do médico. Não havia materiais de limpeza, que foram comprados assim que a junta assumiu a direção do hospital, adequados e específicos para área hospitalar. “O setor de rouparia também estava um caos. Faltavam lençóis, pijamas e uniformes dos profissionais médicos e enfermeiros. A providência foi a compra imediata de tecidos para confecção da rouparia necessária, tudo com recursos da Prefeitura de Corumbá”, disse Lamartine.

O levantamento feito ao longo desses três meses de intervenção constatou uma completa desorganização dos serviços hospitalares. No setor de internação, o que se observava era uma equipe de enfermagem “estressada e desmotivada pela falta de recursos, o que implicava em falta de qualidade nos serviços prestados e na suspensão de internações e cirurgias por falta de material”, descreveu o presidente da Junta.

Foi promovido um trabalho de envolvimento das equipes, com a elaboração de um projeto de educação permanente e a regularização do fornecimento dos insumos. Houve a mudança de local do Serviço de Apoio a Diagnóstico Terapêutico (SADT); reforma e ampliação do laboratório para atender exigências da Vigilância Sanitária. Setor de esterilização e a maternidade estão com reformas em andamento.

Falta de leitos

A Comissão de Intervenção constatou também a falta de leitos. A capacidade do hospital é de 166 leitos. Entretanto, 40 camas hospitalares estavam encostadas, sem condições de uso. “Já reformamos 20 camas e o restante está em processo de recuperação. Os gastos ficarão em torno de R$ 5 mil. Nas primeiras 20, gastamos R$ 2,2 mil. Se fôssemos comprar camas novas, cada uma custaria R$ 1.249”, descreve Lamartine no relatório.

A usina de oxigênio também estava em péssimas condições. Hoje, 10 bombas de infusão estão sendo recuperadas e o investimento foi apenas de R$ 800. Uma bomba nova custa entre R$ 3 mil a R$ 8 mil. A lavanderia também necessitava de uma revisão e reparos de seus equipamentos; o setor de esterilização está em reforma para adequação às exigências da Vigilância Sanitária, e os investimentos atingem também a estrutura física, com a elaboração de projeto de reestruturação da rede elétrica, hidráulica e efluentes, em andamento.

Registro fotográfico

Outra irregularidade constatada foi com relação ao armazenamento do lixo hospitalar, que era feito de forma inadequada. Está em andamento um projeto de adequação, manejo e reciclagem do lixo hospitalar, que por enquanto é depositado em um container apropriado. O levantamento apresentado ao prefeito traz ainda um registro fotográfico das condições em que a Junta encontrou as dependências da instituição, inclusive o centro cirúrgico, vestiário, sala de esterilização, entre outros. Cita também futuras intervenções na enfermaria, laboratório, recepção do hospital e a construção da UTI Neonatal.

Ao longo dos 24 meses de intervenção – que pode ser prorrogada – a Prefeitura de Corumbá vai repassar R$ 1,2 milhão ao hospital. No mesmo período, o Executivo ladarense destinará R$ 480 mil e o Governo do Estado arcará com R$ 1,680 milhão. Totalizando R$ 3 milhões e 360 mil. Estes valores devem ser repassados a mais, além do montante destinado atualmente.

Prazos

O acordo judicial assinado com o Ministério Público Estadual (MPE) estabelece ações a serem cumpridas em 90 e 120 dias. Em 90 dias a Junta Interventora deveria arrecadar todos os livros da entidade e documentos de interesse da administração hospitalar; executar balanço geral e inventário de todos os livros; documentos; dinheiro e bens da instituição, ainda que em poder de terceiros; contratar empresa de gestão hospitalar para promover um diagnóstico da gestão e do orçamento do hospital; realizar cadastro de reserva de médicos interessados em exercer a atividade na instituição; revisar contratos de serviços terceirizados, discriminando os prazos; relação custo-benefício; recebimentos e pagamentos e apontando lucros e déficit.

Em 120 dias a missão é de elaborar planejamentos estratégicos e orçamentários para o funcionamento do hospital; definir cronograma para cumprir determinações exigidas por auditoria especial de 2005; relatórios de inspeção de 2006 e 2009 e autos de infrações sanitárias; elaboração de relatório detalhado das deficiências administrativas; financeiras; econômicas e gerenciais das antigas direções do hospital; prestar contas bimestralmente em reuniões públicas e abertas à comunidade em geral.