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Conselheiro de Lula aposta em diálogo entre partido e base

De mero auxiliar na campanha presidencial de 2002, Gilberto Carvalho ganhou assento na chefia do gabinete do presidente da República. Primeiro, teve um trabalho meramente burocrático de organizar agenda, viagens e segurança. Depois, as responsabilidades aumentaram até ser considerado o homem mais próximo de Lula, de quem é amigo há mais de 30 anos. Ganhou […]
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De mero auxiliar na campanha presidencial de 2002, Gilberto Carvalho ganhou assento na chefia do gabinete do presidente da República. Primeiro, teve um trabalho meramente burocrático de organizar agenda, viagens e segurança.

Depois, as responsabilidades aumentaram até ser considerado o homem mais próximo de Lula, de quem é amigo há mais de 30 anos. Ganhou status de conselheiro —um ministro sem cargo. Religioso, o ex-seminarista é um homem fiel e sincero ao amigo Lula. Sua maior divergência é no futebol. Gilberto é torcedor do Palmeiras, arquirrival do Corinthians, o time do presidente. Foi por essa proximidade que Gilberto Carvalho foi apontado como o presidente ideal do PT para comandar o partido na primeira eleição presidencial sem Lula como candidato. Foi vetado.

O presidente disse que ele seria mais relevante se continuasse no posto em que está desde 1º de janeiro de 2003. O chefe do gabinete da Presidência concedeu essa entrevista ao Correio por telefone na última sexta-feira, entre um compromisso e outro. Enquanto respondia as perguntas, se encaminhava para a Base Aérea de Brasília para receber o presidente Lula.

Que balanço o senhor faz dos 30 anos do PT?

Um balanço altamente positivo do ponto de vista da contribuição que o partido deu para a cultura política e para a transformação da realidade do país. Desde 1980, não houve um front de luta pela democracia e pelo aprofundamento da democracia e pela justiça social e econômica que não contasse com o PT cada vez mais protagonista. Mas tem sombras na história. O partido nasceu ligado à base e à luta da democracia de base e quando cresceu, tornando-se uma instituição, adquiriu e recebeu a influência do modo tradicional brasileiro de fazer política, com seus vícios e problemas. Ainda é um partido democrático, mas não tem mais a participação tão forte da base e viveu a experiência de casos de corrupção dentro do partido.

Dá para retomar esse contato com os instrumentos de democracia de base agora que o PT é um partido mais pragmático?

Dá para retomar. E tem retomado em muitos aspectos. Não dá para imaginar o PT de hoje como sendo aquele de 1982 e 1985. É um partido diferente, tem um grau de responsabilidade muito forte. Não é justo nem adequado cobrar a retomada dos núcleos de base, mas é essencial o PT continuar vinculando sua rotina às lutas sociais.

Nesse processo de reciclagem, o que se deve fazer para o partido não cair na mesmice e o eleitor olhar para o PT e enxergá-lo como igual a todos os outros partidos?

Essa questão está ligada ao fato de o Lula não ser candidato a presidente. Mas a Dilma tem uma grande identificação com a militância do PT, porque tem origem na militância de esquerda histórica. Por isso há uma grande facilidade de ela ser acolhida. O desafio para a frente, se formos governo de novo, é dar continuidade ao processo iniciado pelo presidente Lula. E se formos oposição, retomar a postura forte de oposição e combate que soubemos fazer na Câmara e na militância social.

O fato de não haver um candidato que o eleitorado reconheça como “gente como a gente” não traz uma dificuldade a mais?

Qual o desafio?

O desafio é não perder o eixo que nos conduziu até agora. Precisamos aprofundar a política econômica. É bobagem falar em alteração. E isso vai dar mais resultado ainda porque estamos acertando, continuando fiéis à ética, à justiça social. A Dilma é a continuação do Lula. E a campanha vai mostrar que é a extensão do Lula. Se fizermos esse pacto de fidelidade, não tem erro.

Não corre o risco de o eleitor rejeitar a figura da ministra por identificá-la como um “poste” do presidente?

Não, porque ela é essa pessoa forte. Não é um boneco do ventríloquo Lula. Tem uma enorme capacidade gestora, um sentido ético profundo. Não queria ser candidata, não foi uma escolha do dia para noite, uma criação, foi um longo processo de amadurecimento. E eu sempre digo que a evolução do carisma da Dilma vai se dar com contato com o povo. Num café da manhã, uma vez ela disse: “Gilbertinho, eu não queria ser candidata. Tive medo, mas agora já sou consciente do que está acontecendo. O que está acontecendo é impressionante, porque sou filha da classe média, não vim do povão e tinha medo de que ao fazê-lo parecesse artificial”.

O PT cobrou, sobretudo no primeiro mandato do presidente Lula, maior participação no governo. Agora tem petista dizendo que com o governo da Dilma vai ter mais espaço. Como vai ser essa relação?

O problema da participação era uma forma atravessada de cobrança por uma linha de governo, uma desconfiança sobre o que seria esse governo porque em 2003, apoiado pelo (ex-ministro da Fazenda Antonio) Palocci e pelo (presidente do Banco Central, Henrique) Meirelles, o presidente Lula fez uma política conservadora, que foi contestada pelo partido, que tinha medo de não corresponder aos ideais históricos do PT. E houve contestação, muitos companheiros saíram por causa disso para o PSol, o PSTU, porque se decepcionaram. Até que, com o passar do tempo, viram que não era bem assim. Por caminhos tortuosos, chegamos aos resultados. Em 2011, caso a Dilma se eleja, não acredito que haverá uma guerra mais forte por número x de participação. E a convivência com os aliados também amadureceu. O grau de confiança cresceu entre os partidos.

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