A comissão disciplinar formada pelo colegiado da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do campus de Assis (SP) terá 30 dias para apurar o que houve nos jogos universitários realizados entre os dias 10 e 13, em Araraquara, quando estudantes obesas foram agarradas e humilhadas pelos colegas. A criação do grupo foi aprovada pelos 30 representantes da diretoria, funcionários, professores e alunos da escola numa reunião de mais de três horas.

A portaria deve ser publicada amanhã. A comissão tem poder para convocar qualquer pessoa que possa dar informações sobre o caso. Se não houver tempo hábil em 30 dias, o prazo para tomada de decisão pode ser prorrogado. Enquanto o órgão máximo da escola se reunia num auditório, os alunos protestavam contra a demora da universidade para se posicionar sobre as agressões. Com faixas e cartazes, cerca de 200 estudantes ocuparam a entrada do prédio principal. “Queremos que a Unesp tome medidas que demonstrem o repúdio da instituição a esses atos de violência”, disse a doutoranda em Psicologia Erika Oliveira.

Vítimas e agressores faltam às aulas

Alunas manifestaram solidariedade às colegas agredidas portando cartazes com frases como “Abaixo a Ditadura do Corpo”, “Ser Mulher não é Ser Boneca” e “Por uma Universidade sem Opressão, Preconceito e Violência”. As duas estudantes do campus de Assis que foram agredidas não compareceram.

Por decisão dos familiares, elas não estão comparecendo às aulas e se mantém distantes da imprensa. “A última coisa que queremos é expor essas meninas que já estão feridas e assustadas”, disse a advogada Fernanda Nigro, do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Sexualidade (Neps), que acompanha o caso. Amigos das garotas disseram que elas estão em casas de familiares, em outras cidades. Os estudantes apontados como agressores também faltam às aulas. O estudante Roberto Negrini, que tinha classificado o “rodeio” como uma brincadeira e manifestado arrependimento, foi orientado pelos pais, advogados, a não falar com a imprensa.

Bullyng continua

Em Assis, hoje, os estudantes se dividiam entre os que exigiam punição para os culpados e aqueles preocupados com a imagem da universidade. “Não foi só em Assis que aconteceu isso, mas nosso campus foi o único que se posicionou”, disse Camila Galvão, estudante de Letras. A aluna de Psicologia Ana Carolina Wershing disse que o bullying continua acontecendo na escola. Ela citou o caso de uma amiga que, desde o primeiro ano de faculdade, sofre discriminação por sua opção sexual. Já Heloisa Helena Soratto e Silva lembrou que a Unesp de Assis tem forte tradição feminista por abrigar cursos de Letras e Psicologia. “Não estamos deixando isso morrer”.

Depois dos protestos, os alunos acompanharam a reunião do colegiado pela vidraça, do lado de fora. Eles vibravam quando os representantes falavam em apuração e punição. O vice-diretor, Ivan Rocha, disse defender uma avaliação rigorosa dos casos que considerou de extrema violência. “É uma instituição pública, bancada com a economia popular”, disse.

Alguns professores atacaram a imprensa, que teria dado tratamento sensacionalista ao caso. Um deles disse que a Unesp tinha 50 anos de tradição e não devia ser “cobrada” a aplicar punições. No final, a congregação da Unesp de Assis aprovou uma moção de “veemente repúdio” contra os atos de violência praticados contra as alunas. Também aprovou um desagravo (reparação de dano) às alunas e seus familiares.