Brasil vai fechar 2010 com um crescimento de 7%, o maior já registrado desde 1986, inflação controlada e um Natal “feliz”, com R$ 100 bilhões injetados na economia por meio do 13º salário dos brasileiros. A afirmação é do ministro da Fazenda Guido Mantega que, nesta segunda-feira (30), visitou os estúdios da Rede Record de Televisão, em São Paulo, onde concedeu entrevistas aos jornalistas Fátima Turci, Paulo Henrique Amorim.

Apesar da freada no crescimento no segundo trimestre, que deve fechar avanço de até 1%, a economia brasileira está em um ritmo de “cruzeiro”, após a retirada dos estímulos fiscais, como a redução de impostos para o setor de veículos, segundo Mantega.

No primeiro trimestre deste ano, o crescimento foi de 2,7% sobre outubro a dezembro de 2009.

Para o ministro, a economia do país deve manter uma trajetória de expansão até dezembro, puxada por investimentos em infraestrutura (construção de hidrelétricas e pontes) acima de R$ 120 bilhões.

– No segundo trimestre nós tivemos uma ressaca do primeiro, foi muito boa, porque nós ainda tínhamos os estímulos, a redução do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados]. (…) Aí nós retiramos esses estímulos, o pessoal correu para comprar em março e depois disso parou um pouco [de comprar] e a atividade caiu. A partir de julho, a economia voltou a aquecer e nós devemos terminar o ano em 7%, perdendo apenas para a China e a Índia.

A previsão que já havida sido feita por analistas de mercado responsáveis pelo boletim Focus, do Banco Central, coloca o Brasil entre as cinco maiores economias do mundo, segundo Mantega. O ministro, que afirma não desgrudar os olhos dos indicadores da China e dos Estados Unidos, afirma ainda que o crescimento sustentável do Brasil pode ser atribuído ao aumento da classe média, que ganhou quase 50 milhões de brasileiros – o equivalente ao total da população da França.

– Nós colocamos 50 milhões de habitantes no mercado, que não tinham condições de comprar. Agora, eles já conseguem comprar carro, eletroeletrônico e agora a casa. Antes, era todo mundo classe E. Aquela coitada, que não tinha dinheiro pra nada, e agora está passando para a classe D e C. Se imaginar que a França tem quase 60 milhões de habitantes foi como colocar essa população toda na classe C.

O aumento do emprego formal, que deve chegar a 2,5 milhões de novas vagas neste ano, também é apontado pelo ministro como responsável pelo crescimento acelerado. No entanto, para manter o crescimento “sustentável”, em torno de 5,5% e 6% nos próximos anos, Mantega aponta a necessidade de um fortalecimento do crédito – com o aumento dos empréstimos por parte dos bancos privados – e a expansão dos programas sociais.

O ministro defende o consumo em alta como forma de poupança e afirma que o financiamento da casa própria, em até 30 anos, pode ser considerado uma forma de poupança.

– O que influencia a capacidade de poupança é a renda. Antes, o brasileiro gastava quase tudo que ganhava em itens básicos, como alimentação. Hoje, ele já consegue acumular renda e pagar um financiamento […]. É uma armadilha pensar que o correto é todo mundo poupar.

Sobre a perspectiva de mudança em torno da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,25%, Mantega desconversou e disse que a economia iria desacelerar mesmo se a taxa não fosse reajustada. No início do ano, a Selic estava em 8,75%, no menor patamar da história, e desde então já sofreu três altas consecutivas.

As entrevistas com o ministro Guido Mantega serão exibidas na íntegra no programa Economia e Negócios, da apresentadora Fátima Turci (hoje às 19h30), e Entrevista Record, do jornalista Paulo Henrique Amorim, nesta terça-feira, às 22h.