Prefeito de Dourados, preso por corrupção, cobrava comissão do transporte escolar até nos meses que não tinham aulas

Nem no período de férias o prefeito de Dourados, Ari Artuzi, do PDT, preso desde quarta-feira por corrupção, deixava de encher o bolso com dinheiro arrecadado por meio de tramas fraudulentas. Ele cobrava 10% da empresa responsável em transportar alunos para zona rural.

O negócio era mais que rentável: ele pegava R$ 68 mil mensais do dono da empresa que explorava o serviço, inclusive no período de férias, quando sua cota era aumentada para R$ 340 mil.

A comissão imposta por Artuzi aparece por meio de um diálogo travado entre o ex-secretário do Governo do município Eleandro Passaia e o empresário Arnaldo de Souza Oshiro, um dos sócios da empresa GWA Transportes.

Passaia é um jornalista que, assessorado pela Polícia Federal, gravou as conversas que fortaleceram a denúncia que desdobrou num dos maiores escândalos políticos ocorrido em Dourados, a segunda maior potência econômica de Mato Grosso do Sul. Passaia era o homem de confiança do prefeito.

No relatório da Polícia Federal, o qual o Midiamax teve acesso, assim é narrada a participação de Artuzi na fraude contra o transporte escolar: “conversa de Eleandro Passaia e Arnaldo de Souza Oshiro, um dos sócios da Empresa GWA Transportes. Arnaldo afirma que o contrato de transporte escolar que a empresa mantém com a prefeitura é no valor de R$ 8.200.000,00 anual (R$ 680.000,00 por mês) e que desse valor dez por cento vai para o prefeito Ari Artuzi, e mesmo no período de férias, quando não há prestação de serviço, a prefeitura efetua o pagamento, pois a empresa devolve 50% para o prefeito”.

Note que ao menos por três meses durante o ano, período de férias escolar, Artuzi arrecada algo em torno de R$ 1 milhão com o transporte, serviço custeado não só por verba municipal, mas também por recurso estadual e federal.

Ainda na conversa de Passaia e o empresário, os dois “falam em marcar reunião para discutir o direcionamento da próxima licitação”.

Diz o relatório da PF: “Ao final da conversa Passaia fala que o vereador Marcelo Barros (candidato a deputado estadual pelo DEM) quer dez mil reais para não fazer oposição e Arnaldo diz que arrumará o dinheiro para Passaia pagar Marcelo Barros, em troca de este retirar a denúncia feita ao Ministério Público questionando o contrato que a GWA mantém com a prefeitura”.

Propina parcelada

O prefeito Artuzi, preso preventivamente numa das celas da 3ª Delegacia de Campo Grande, determinou que seus subordinados arrancassem dinheiro até de um projeto tocado pela prefeitura conhecido como desfavelamento. Detalhe: e o pagamento da propina foi feito parcelado.

De acordo com o relatório da PF, adquiriu um terreno no Jardim Novo Horizonte, onde no local seriam construídas casas populares. Do negócio, Artuzi cobrou R$ 80 mil de comissão.

“Posteriormente, em 5 de julho de 2010, houve nova conversa entre Passaia e Marcelo [secretário de Serviços Urbanos], onde combinam o pagamento dos R$ 80 mil. Valor que será repassado integralmente ao prefeito Ari Artuzi em três parcelas: a primeira e segunda no valor de R$ 30 mil e a terceira parcela de R$ 20 mil”.

O parcelamento, segundo o relatório do PF, foi cumprido conforme diálogo entre o ex-secretário de Governo e o ex-secretário de Serviços Públicos.

Ari Artuzi ainda não comentou as denúncias que a puseram na cadeia.