O IGP-10 de outubro, que subiu 1,15%, poderia ter avançado mais não fosse o comportamento do câmbio. O dólar fraco tem derrubado a inflação no setor industrial atacadista, cujos preços são mais atrelados à cotação da moeda norte-americana, segundo avaliou o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Salomão Quadros. “O câmbio está se tornando um amortecedor da inflação”, resumiu. “A tendência é que nos próximos Índices Gerais de Preços (IGPs) o efeito do câmbio fique mais forte”, afirmou.

Quadros explicou que o dólar mais fraco, aparentemente, não é mais uma situação pontual – e isso começa a ser incorporado aos preços dos produtores. “O dólar começa a entrar na formação de preços sim, de forma atenuadora, suavizando os preços. O efeito do câmbio começa a ser levado mais em consideração pelos formadores de preços, já que, pelo que podemos ver, este não está se configurando um fenômeno de curta duração, até o momento”, explicou.

A desvalorização do dólar frente ao real ajudou a reduzir o ritmo de avanço dos preços industriais no atacado, que desaceleram de 1,03% para 0,21% de setembro para outubro. Isso ajudou a diminuir a taxa de inflação atacadista no mesmo período (de 1,63% para 1,51%).

Um dos segmentos mais influenciados pelo câmbio mais fraco é o de materiais para manufatura, que fornece insumos para indústria e cujos preços começaram a cair, de setembro para outubro (de 0,49% para -0,07%).

Mais uma vez, os preços dos produtos siderúrgicos no atacado também mostram aprofundamento da queda, de setembro para outubro (de -1,27% para -2,14%), a exemplo do que ocorreu no Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de setembro.

Na avaliação do especialista da fundação, no caso do setor siderúrgico, outros fatores também têm contribuído para a redução de preço, como o menor avanço de preços das commodities industriais no mercado internacional, por exemplo. “No entanto, podemos dizer que o câmbio também tem contribuído para a queda de preços no setor siderúrgico”, afirmou.

Outro setor citado pelo técnico como exemplo de influência cambial atuando na desaceleração ou queda de preços foi o de combustíveis e de lubrificantes. Quadros lembrou que alguns combustíveis têm preços atrelados ao dólar. É o caso de óleo combustível, cujo preço subiu menos, de setembro para outubro (de 0,13% para 0,08%).