No Assentamento Itamarati existem denúncias de pequenos produtores, dando conta de que o agrotóxico com formulações à base de 2,4-D, muito usado para dessecação de lavouras que utilizam o plantio direto, estaria contaminando algumas culturas frutíferas como manga, tomate e até mandioca, entre outras. Há um caso confirmado de uma lavoura com cerca de 10 mil pés de tomate que não produziu nada e foi totalmente exterminada.
Moradores das vilas também reclamam que não conseguem plantar nem hortaliças, pela ação do agrotóxico aplicado nas lavouras próximas. O uso do 2,4-D vem crescendo desde sua introdução no mercado. No início, devido às vantagens como herbicida seletivo de baixo custo e ultimamente com a adoção do desenvolvimento da prática do plantio direto (que iniciou o conceito de agricultura ambientalmente sustentável), como uma ferramenta insubstituível para controle de plantas daninhas.
O 2,4-D só pode ser utilizado em culturas para quais ele foi registrado. No Brasil, as culturas são soja (em pré-plantio), milho, cana-de-açúcar, café, trigo, aveia, centeio, arroz e pastagem formada e só pode ser utilizado em áreas rurais. O produto não tem registro, portanto, não pode ser recomendado para utilização nas proximidades das áreas urbanas.
O produto é encontrado em duas formulações: éster e amina. A formulação éster não está sendo comercializada no mercado brasileiro. Os produtos com a formulação éster são 2,4-D éster; Clomazone e Trifluralin. A formulação amina (atualmente única comercializada no Brasil), não é volátil, já a formulação éster, sim, tem potencial de volatilização, e pode contaminar plantações próximas aos locais onde for aplicada.
A contaminação da lavoura vizinha acontece pelo que chamamos de deriva. Há dois tipos de deriva: do vapor e aerotransportada. A deriva do vapor ocorre se um produto volátil é associado ao arraste pelo vento. A deriva aerotransportada ocorre quando o produto se move para fora do alvo durante a aplicação.
O Censo Agropecuário do IBGE mostrou que 56% de 1,4 milhão de propriedades que utilizam agrotóxicos não recebem orientação técnica, e que apenas 21% dos estabelecimentos recebem orientação regularmente O uso de agrotóxicos ocorre sem assistência técnica ou auxílio de equipamentos adequados de proteção em grande parte dos estabelecimentos agrícolas do País.
Além disso, o pulverizador costal, equipamento de aplicação que representa maior potencial de exposição, é utilizado em 70% dos estabelecimentos que usam algum tipo de agrotóxico. Pelo menos 20% dos estabelecimentos que usam agrotóxicos, ou 296 mil, não utilizam proteção individual, realidade que pode ser encontrada nos assentamentos da fronteira.