A quadrilha que montou um esquema de fraudes em apostas envolvendo partidas de futebol explorou o uso de contas falsas em casas de apostas e transferências de valores por meio de “laranjas”.

O objetivo era impedir que apostas atípicas caíssem no alerta dos sites das jogatinas e acabassem bloqueadas. Além disso, tentava evitar a vinculação dos supostos líderes do esquema criminoso com os pagamentos a jogadores profissionais.

Então, a partir de diversas contas abertas em sites de apostas, o grupo afirmava usar um “robô” em computadores que permitia a operação simultânea dos cadastros. As descobertas estão no âmbito das investigações realizadas pelo MPGO (Ministério Público de Goiás) nas duas fases da Operação Penalidade Máxima.

A apuração mira um esquema de aliciamento de jogadores de futebol para que realizassem determinadas ações. Isso teria ocorrido em partidas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro, além de campeonatos estaduais. Dessa forma, os eventos manipulados viravam apostas que rendiam lucros ilegais à quadrilha e a atletas.

Esquema de apostas evitava compartilhar endereços

Em um diálogo entre dois dos principais articuladores do esquema, Thiago Chambó diz a Bruno López que devem ser evitados compartilhamento de endereços e de números de telefone. Assim, contas bancárias pessoais também não deveriam aparecer nas transações.

“Nem transfere mais da sua mulher nem do seu CNPJ para ninguém nas próximas, entendeu? Pega umas contas ‘laranja’ para mandar”, disse Chambó, pelo WhatsApp.

Outro apostador na mira do MP, William de Oliveira Souza aparece nas investigações como alguém que atuava para oferecer cadastros nos sites de apostas, em troca de vantagem financeira.

Para o Ministério Público de Goiás, William McLaren, como era conhecido, tinha plena ciência da atividade criminosa. “Se quiser delegar pra mim, na resposta de arrumar, vai ‘oh Mclaren, eu preciso de cem contas’, eu fico na responsa de arrumar cem contas, coloco saldo e resumo as cem e a gente define a porcentagem, entendeu? É uma equipe, mano, o bagui é uma equipe”, disse.

Bruno López é empresário e ex-jogador de futebol. Ao Estadão, um atleta que atuou com ele em um time de futsal de São Bernardo confirmou que o agora empresário pedia acesso a cadastros em sites. Dessa forma, tentava-se diversificar a origem das apostas em troca de percentuais sobre os lucros.

Camila Silva Motta, mulher de Bruno, é apontada como integrante do núcleo administrativo do esquema. Assim, segundo a investigação, ela tinha a “relevante atuação” de fazer pagamentos e verificar o funcionamento das contas apócrifas utilizadas pelo grupo.

Empresa recém-criada pagava ‘sinais’ a jogadores que entraram no esquema

Bruno e Camila são sócios da BC Sports, uma empresa recém-criada para agenciar jogadores de futebol. Ela seria usada principalmente para pagamento dos “sinais”, as antecipações a jogadores que aceitavam se corromper para realizar determinadas ações em campo, como receber cartões ou cometer pênalti.

Ao todo, 16 pessoas se tornaram réus nesta semana por envolvimento no esquema das apostas com manipulação de 13 partidas. Oito da Série A do Campeonato Brasileiro de 2022, uma da Série B e quatro de campeonatos estaduais de 2023.

O advogado de Bruno López, Ralfh Fraga, afirmou que ainda precisa se debruçar sobre o processo para se manifestar com mais embasamento sobre o caso. A reportagem não localizou advogados de Thiago Chambó e William McLaren.