Clássicos paulistas terão torcidas únicas

 

Após as últimas resoluções da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, de que os clássicos paulistas deverão ter torcida única e as organizadas estarão proibidas de entrar nos estádios com qualquer coisa que as identifique, a Gaviões da Fiel, maior organizada do Corinthians, divulgou nota rebatendo as proibições.

Torcedores organizados do Corinthians, não necessariamente ligados à Gaviões da Fiel, estiveram envolvidos em pelo menos quatro episódios de violência no último domingo, dia do clássico contra o Palmeiras, no Pacaembu.

Uma das ocorrências, inclusive, foi nas cercanias do estádio e prendeu 25 corintianos – entre eles, dois reincidentes que ficaram presos em Oruro, na Bolívia, acusados de envolvimento na morte do garoto Kevin Espada, de 13 anos, vítima de um sinalizador. Outro confronto foi na estação Brás do metrô, e mais duas brigas aconteceram na região metropolitana – Guarulhos (SP) e Itaim Paulista (SP).

'Gaviões da Fiel' critica decisão que impede torcidas organizadas em partidasUm dos argumentos da Gaviões é que os confrontos não se ligam às torcidas, mas sim, são uma extensão da violência diária a qual estamos submetidos no cotidiano. A nota oficial da torcida, que dispara contra a hipocrisia e a falta de fiscalização do Poder Público, até traz dados do Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal.

“Generalizar o problema da violência apenas com a proibição das organizadas em estádios paulistas trata-se não apenas de punir quem nada fez, mas deixar de punir quem de fato tenha cometido atos violentos. A falta de punições individuais, investigações inteligentes, identificações nos estádios, e várias outras medidas, são o que de fato estimulam torcedores mal intencionados. Qualquer generalização é burra, e não a aceitaremos passivamente”, escreveu.

Histórico

Desde 11 de fevereiro, quando levantou as primeiras faixas de protesto em jogo na Arena Corinthians, contra o Capivariano, questionando o poderio de emissoras de televisão e a polêmica do desvio de verba das merendas em São Paulo, a Gaviões da Fiel tem sido protagonista em uma série de episódios extracampo.

Em razão das faixas – com frases contra a CBF, a FPF, emissoras de TV abertas e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Fernando Capez, suposto envolvido na polêmica das merendas -, a torcida foi alvo de retaliações por parte da Polícia Militar.

Forte opositor das torcidas organizadas desde o episódio da “Batalha campal” no Pacaembu – briga entre torcidas de Palmeiras e São Paulo na final da Copa São Paulo de Juniores em 1995 -, Fernando Capez já moveu nos bastidores uma série de projetos para pôr fim às organizadas. Daí a rusga, assumida pela Gaviões com as provocações a respeito das merendas.

Nos jogos contra o Cerro Porteño, pela Libertadores, quando esticou faixa em setor da arquibancada filmado pelas câmeras de TV, e contra o Linense, quando foi alvo de represália na parte de fora do estádio, a torcida entrou em confronto com o aparato policial e causou confusão.

Há pouco mais de um mês, o presidente da agremiação, Rodrigo Fonseca – mais conhecido como Diguinho – foi vítima de uma emboscada próximo ao Fórum da Barra Funda. Ele e o secretário-geral Cristiano Morais foram agredidos com barras de ferro e chegaram a ser hospitalizados.

Após alegar, em sessão da CPI do Futebol na Câmara Municipal, que a ação não tinha partido de torcidas rivais, Diguinho acompanhou pelo noticiário, na última semana, a prisão de Deivison Correia, integrante da Mancha Verde – maior organizada do Palmeiras -, acusado de participar da emboscada no estacionamento de um supermercado.

Às vésperas do clássico, na sexta-feira passada, a Polícia Civil, com o apoio do Batalhão de Choque da PM, fez uma vistoria no barracão da Gaviões da Fiel, na zona leste, no intuito de encontrar qualquer tipo de arma que pudesse ser utilizado em um eventual confronto de torcidas – que acabou se confirmando no fim de semana.

Confira os principais trechos do comunicado oficial emitido pela Gaviões da Fiel:

“O que realmente nos surpreende (ou não) é a incompetência e passividade do Poder Público como um todo, que não apenas falha no esforço para punir de fato os INDIVÍDUOS que cometem atos violentos, como quer transferir a responsabilidade de tais punições aos dirigentes de torcidas. Querem retirar do Poder Público o que é de SUA responsabilidade.

Surpreende-nos também a série de “coincidências” que antecederam o clássico, como uma invasão autorizada de policiais à sede dos Gaviões da Fiel Torcida, um dia após termos realizado um grande protesto na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, pedindo por uma CPI das Merendas.

Chama-nos a atenção também que um suspeito das agressões contra diretores dos Gaviões da Fiel tenha sido apresentado às vésperas de um clássico entre Palmeiras e Corinthians como suspeito de integrar uma palmeirense. Assim como nos desperta curiosidade a falta dos planos de ações preventivas por parte da promotoria e da PM para coibir e evitar possíveis encontros entre torcedores.

Além disso, causa estranheza o fato de tal cruzada repentina pelo fim das organizadas vir “coincidentemente” após meses de intermináveis protestos por parte dos Gaviões da Fiel contra alicerces conservadores da sociedade, não habituados com a contestação – como FPF, CBF, Rede Globo, dirigentes do Corinthians e o Deputado Fernando Capez, ex-promotor e um dos investigados no esquema das Merendas

Proibir a entrada de camisas, instrumentos, bandeiras e afins, não pacificará magicamente a cidade. Proibir o repasse direto de ingressos dos clubes para as torcidas (algo que NÃO ACONTECE entre Sport Club Corinthians Paulista e Gaviões da Fiel) não evitará que torcedores violentos adentrem os estádios. Colocar clássicos com torcida única não coibirá o livre trânsito de torcedores rivais em lugares distantes dos estádios, conforme já acontece”