Na Capital, Centro comercial é dominado por mulheres
Nos ônibus lotados pela manhã e pelas ruas do comércio, bolsas e cabelos predominam a paisagem composta predominantemente por mulheres em Campo Grande. Desde cedo, elas chegam ao Centro e muitas vão se acumulando na frente das lojas, sentadas, à espera da abertura das portas. As próximas nove horas serão passadas a pé. E de salto alto.
Esta ao menos é uma exigência de uma loja de roupas na Rua 14 de Julho. O gerente Paulo Henrique, eu trabalha no setor há sete anos, admite que a maquiagem também é obrigatória para as vendedoras. “Mas os homens também tem que seguir os padrões da loja, como fazer a barba sempre e usar gel nos cabelos, se ele for comprido”.
Vendedora, Kathleen Batista, de 20 anos, está há um ano e quatro meses na loja e gosta da área. “Acredito que no comércio a gente cresce mais rápido. Quero trabalhar no caixa, depois ser gerente”. Sobre o uso das roupas de trabalho, ela destaca que a parte mais difícil é o uso do salto.
“Tem menina que desistiu de trabalhar por não aguentar ficar no salto. É realmente complicado, mas é uma exigência como outras de outras empresas. Tem dia que dói bastante. Amo trabalhar aqui, mas se pudesse mudar alguma coisa seria o uso do salto”, conta.
E quando chega em casa, Kathleen ainda tem que cuidar do filho de 2 anos e dos serviços domésticos. Mas, quanto a isso, não tem reclamações. “Meu marido vai para a faculdade à noite e também trabalha o dia todo. Na meia hora em que fica em casa, ele arruma tudo. Somos muito companheiros e dividimos todas as tarefas”, afirma, em elogio ao parceiro.
A vendedora sonha em cursar uma faculdade. “Entro ainda este ano no curso de Pedagogia, como meu marido. Eu fico triste, porque vou ter menos contato ainda com o meu filho, mas é para o nosso futuro. Eu gosto do comércio, mas mais à frente penso em outra carreira”, diz.
Em busca das vagas
Gerente de uma loja de cosméticos, Lívia Carriero trabalha há 11 anos no setor e diz que mais mulheres procuram pelas vagas no comércio. “Mulheres e gays. Já tivemos funcionários homens heterossexuais que passaram por treinamento para maquiar mulheres. As vezes tem que passar um creme, testar o produto, e eles ficam de fato receosos. É bem raro um querer”.
A empresa tem um homem que trabalha no estoque, mas que teve o mesmo treinamento das atendentes. “É uma oportunidade que a empresa dá, porque no atendimento tem comissão também, é uma forma de crescer na empresa. Mas eles preferem ficar lá atrás mesmo”, brinca.
Os dois gerentes acreditam que não há preferências para contratar mulheres e que a procura feminina que é mais alta que a masculina, não a necessidade em si do mercado. “E muda muito. Em janeiro eu estava com quatro homens aqui e não ficou nenhum. Eles saem ou são mandados embora, porque o que avaliamos é a produtividade e não o gênero”, garante Paulo Henrique.
“É muito raro aparecer um currículo masculino, mas quando aparece é tratado como o de uma mulher, De fato não há preferência pela contratação de mulheres aqui”, ressalta Lívia.
Atendente de farmácia, Cristiane Quevedo acredita que os homens prefiram ser atendidos pelo mesmo gênero quando o assunto é saúde. “Quando é algo muito pessoal, da saúde do homem, ele olha bem na farmácia para ver se não tem um vendedor para falar antes”.
Na falta de um homem, eles acabam confiando nas mulheres. “Quando não tem, eles chegam meio acanhados, mas explicam e sabem que podem confiar em um atendimento sem julgamentos. Acho que esta é a vantagem da mulher, ela tem um poder maior de acolhimento”, opina.
Em todo o Centro-oeste, Mato Grosso do Sul é o estado que mais emprega mulheres no comércio. Das vinte atividades que mais contratam mulheres, seis trazem a palavra ‘comércio’. No topo, o varejista de acessórios e vestuário. Depois, de alimentos, produtos novos, farmacêuticos, calçados e artigos de viagem e de produtos de padaria.
O levantamento é do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) Estatístico.