Motivos são variados quando uma mulher decide não ter filhos

O dia hoje é das mães. Nós sabemos. Mas o MidiaMais decidiu ‘subverter’ um pouco a pauta tradicional da data e revelar o olhar das mulheres que, por opção ou circunstância da vida, não tiveram filhos. Em datas assim, elas costumam sentir ainda mais a pressão da sociedade pela maternidade? Ou não? Confira a resposta de algumas delas, e veja o que a psicóloga Marisa Costa diz sobre o assunto.

A missionária Cláudia Costa, 44 anos, precisou retirar o útero aos 35 anos e segundo ela foi bem complicado durante um período, para entender que não poderia ter filhos. ‘Cheguei a entrar em depressão por não aceitar a nova condição, mas com o tempo fui superando, graças a Deus. Hoje trabalho com crianças na igreja e faço trabalho voluntário na Santa Casa, e isso me supre. Achei outras opções e outras perspectivas, tem tanta criança orfã, doente, carente, precisando de ajuda.”, diz. Ela ainda conta que algumas pessoas ficam penalizadas e ela já sofreu muito com isso, mas aceitou a condição e não tem problemas com isso.

Existem aquelas que com a rotina da vida, e por mais que tenham vontade, deixam a maternidade para depois e isso aconteceu com Suzana Afonso, 44 anos, inspetora em uma empresa de segurança. ‘Não foi uma questão de opção, mas com a correria da vida, o tempo foi passando, e foi ficando para depois. Sempre quis ser mãe, mas apesar disso sei dos riscos que corro por conta da idade. Estou noiva, e meu parceiro quer muito um filho meu, mais até que eu. Porém precisamos estar cientes de que talvez não possa mais, gerar uma criança. Mas não me sinto frustrada, sou feliz”, afirmou.

Suzana compensa o fato com os sobrinhos, e um deles foi criado com ela, para ela valeu a experiência de compartilhar dessa fase de crescimento, mas imagina que o amor de mãe é como ela sente pelos sobrinhos, um amor incondicional.

O medo também é um dos motivos pelos quais muitas mulheres. “Na verdade eu tenho medo de ter um filho, mas na verdade o assunto me traz vários tipos de medo”, afirma Fabíola Magalhães, 31 anos, jornalista. Para ela a atual situação do mundo, o parto em si, a criação, são motivos pelos quais ela evita ter filhos. “Se acontecer, será muito bem vindo, pois acredito que tudo seja permissão de Deus, mas pretendo evitar por mais uns 3 anos”, contou. Um outro medo, é de entrar em um relacionamento, ter um filho e o relacionamento não durar. “Acho que não saberia lidar com a situação de um divórcio e a possibilidade do meu filho ter uma madrasta”, diz.

Fabíola diz que sempre tem alguém para fazer a pergunta do porque não tem filhos, e ainda tem a inconveniente afirmação “a mulher tem prazo de validade, não pode demorar muito para ter filhos, pode dar problemas para a criança”, mas ela acaba levando tudo na esportiva. “Não me incomodo com a cobrança. Gosto da minha liberdade e sou muito pé no chão, ser mãe me encanta e me assusta, se não me sentir preparada não encararei uma gravidez, a não ser que aconteça sem planejar”, conclui.

Marli Gonçalves França, 35 anos, autônoma, se casou com um homem mais velho e por conta de uma vasectomia, o casal não pode ter filhos “Ele já tem filhos de um outro relacionamento, e eu queria filhos até os 30 anos, depois acho muito arriscado, e como ele já era vasectomizado quando casamos, então não criei expectativas, e agora já estou mais tranquilo. O dinheiro que gastaria com filhos, gasto comigo”, contou.

Para a psicóloga, Marisa Costa, para ser mãe é preciso que a mulher adote esse filho, “Existem muitas teorias que afirmam existir um instinto materno, mas acredito que ter filho é uma coisa, ser mãe é outra. Isso significa que uma mãe precisa tornar por filho aquele sujeito, seja ele biológico ou adotado”, afirma. Sobre as cobranças que existem, Marisa, diz que há cobrança por toda parte e em tudo o que vivemos, mas muitas mulheres optam pela não maternidade porque existe uma fantasia de que para ser mãe é preciso ser exclusivamente mãe, o que não é verdade. “Há mulheres que optam por não ter filhos porque tem uma profissão a zelar, achando não ser possível conciliar as duas coisas. Como se ‘mãe boa’ fosse aquela que é exclusivamente mãe. Não há problema algum deixar o filho em uma escola ou com uma babá, isso é estruturante para a criança”, afirmou.

Sobre a exigência que existe sobre a mulher, a psicóloga diz que uma escolha é sempre uma escolha, e as mulheres ‘vivem’ culpadas, seja porque são mães e tem uma vida além disso ou porque não são. A maternidade ou a impossibilidade dela de certa forma sempre tará traumas, pois relembra a relação que cada mulher teve com sua própria mãe. “Quando desejamos algo que não conseguimos bancar, podemos acabar com uma depressão, muitas mulheres afirmam querer e não conseguem engravidar, mas talvez não seja isso que elas desejem de fato, muitas apresentam dificuldade com a maternidade quando os filhos nascem. Existem aquelas que não podem engravidar, mas rejeitam a ideia de adoção ou fertilização, existe uma cobrança de que um filho precisa ser biológico, mas na verdade, o filho, biológico ou não, precisa ser adotado por essa mãe”, concluiu.

 

(Sob supervisão de Marta Ferreira)