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Duas décadas de internet, a tecnologia revolucionária que muda tudo a cada minuto

Rede de computadores foi implanta oficialmente em 1995 no Brasil
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Rede de computadores foi implanta oficialmente em 1995 no Brasil

 

A grande discussão da atualidade em relação à internet é se as operadoras brasileiras podem ou não limitar o acesso à rede ou cobrar pelo tráfego de dados excedente de uma franquia imposta aos consumidores. Levando em conta que vivemos superconectados, a proposta sugere um retrocesso à vida analógica de duas décadas atrás – um absurdo do mais inimagináveis, a não ser que você tenha pelo menos 30 anos de idade.

Nos anos 90, precisamente em maio de 1995, quando foi implementado no Brasil, o acesso à internet tinha limitações que, resguardando-se as devidas proporções, são semelhantes a como as operadoras têm intenção de deixar, só que de uma forma muito mais dramática: em vez das conexões ultrarrápidas, de pelo menos ’10 megas’, os modens só suportavam conexões de, no máximo, 56kb por segundo.

Era necessário, também, recorrer à linha telefônica, contratar um oneroso provedor de internet e um plano de dados – o de 10h mensais era um luxo que custava R$ 18, na época em que o salário mínimo era menos de R$ 100. Para completar o calvário, os usuários domésticos tinham que esperar a meia noite para aproveitar o pulso único e assim pagar o preço de apenas uma ligação telefônica durante a madrugada, precisamente até 6h da manhã.

A revolução tecnológica no ramo da telefonia, que aconteceu durante o período das privatizações, a partir de 1998, certamente é uma variável da equação que possibilitou a expansão do serviço e o aprimoramento das ferramentas que são, atualmente, imprescindíveis. Hoje, a internet é até considerada um direito humano e toda pessoa tem direito a ter acesso à rede e aos benefícios oriundos dela.

É claro que muita coisa mudou nessas duas décadas, de forma que para um jovem de 15 anos a situação descrita acima é simplesmente absurda. Quando surgiu, a internet não permitia alto tráfego de dados e nossa mente era ajustada a um nível de paciência impressionante para aguardar o tempo de abertura de um site qualquer. Não existiam redes sociais. Os telefones celulares eram tijolos caríssimos que nem sonhavam com conexão à rede. A internet era bem menos interessante, mas, ainda assim, causava fascínio na geração que cresceu junto a ela.

Revoluções por minuto

Muito antes do Chrome e do Firefox, o primeiro navegador popular, o Netscape Navigator, atendia às principais demandas de quem buscava coisas simples, como fazer uma pesquisa on-line ou navegar em um chat. Os jornais ainda eram limitados ao papel, as notícias eram de ontem. Nessa seara, o portal UOL foi pioneiro, trazendo informações em tempo real, numa nova linguagem – mais ágil e objetiva. A informação, enfim, começava a propagar-se de forma diferenciada. Foi o início da revolução.

Com o passar dos anos, com a otimização das conexões e do hardware, a internet encontrou o locus para ligar-se às entranhas sociais numa velocidade impressionante. Em 1997, a declaração de imposto de renda já pode ser feita on-line. Em 2003, as inscrições do Enem foram feitas pela rede e o Google já era uma referência de buscador. Em 2005, era mandatório que toda empresa tivesse uma versão em HTML, a linguagem básica dos sites da internet. No mesmo ano, surgiu o Youtube e o saudoso Orkut ganhava fama entre brasileiros. A sociedade estava na iminência da superconexão e a internet tornou-se uma realidade sem volta.

Duas décadas de internet, a tecnologia revolucionária que muda tudo a cada minuto

Netscape foi o primeiro navegador popular / Reprodução

“A internet proporcionou a mudança de modelos de interação e de circulação de conhecimento. Quando teve início seu processo de popularização, a partir de 1996, tornou-se responsável por uma nova fase sem precedentes na história, porque ela permitiu algo único, que cada um tivesse conectado a qualquer pessoa” afirma a especialista internacional em economia criativa e colaborativa Lala Deheinzelin, que aponta a internet como o motor rumo a um novo modelo de sociedade (confira a entrevista completa AQUI).

Basicamente, Deheinzelin explora o óbvio que não conseguimos enxergar de imediato: a internet transformou nossa capacidade de relacionamentos e mudou substancialmente a maneira de seres humanos pensarem, para o bem e para o mal, já que, atualmente, somos dependentes das informações disponíveis on-line, até mesmo para conferir a ortografia de palavras, datas históricas e outras informações cotidianas. Mudou, também, a forma como a informação circula – sem depender, necessariamente, da mídia tradicional, como jornais impressos e tevê.

Em 1999, o número de internautas era superior a 2,5 milhões. Em 2002, dados do Ibope contabilizavam 7,68 milhões usuários. Há 10 anos, 30 milhões de almas estavam on-line. E hoje… Quem não está? Não é a toa, portanto, que em duas décadas conectados, gerações já são moldadas a esta nova realidade, da mesmo forma como são às novas tecnologias, a exemplo de smartphones e tablets.

“Em 1999 eu ganhei da minha mãe meu primeiro telefone, um Nokia 6120, que nem mandar mensagens mandava. Era um luxo alguém de 14 para 15 anos com celular. Mas, hoje, as crianças já tem um celular com Android simples, já usam jogos online, acessam o WhatsApp ou o Netflix pelo aparelho”, conta o professor universitário Diego Sintra, 30, que viveu todo o processo de popularização da internet e relembra nostálgico os contrastes.

“A internet hoje é um outro mundo. Naquele tempo tinha menos coisas, a gente curtia muito os programas de chat, como o ICQ e o mIRC. Fiz muitas amizades que duram até hoje nesses programas. Também lembro bem como era subversivo baixar ilegalmente músicas pelo Kazaa ou pelo Napster. Todo mundo fez isso. Parece que foi ontem. As coisas mudaram muito rápido”, lembra.

Pornografia, chats e pirataria

Duas décadas de internet, a tecnologia revolucionária que muda tudo a cada minutoNas grandes empresas, a internet possibilitou que as informações como memorandos, ofícios e outras comunicações gastassem menos papel por meio do correio eletrônico. As informações como tabelas, relatórios e demais informações eram arquivados em servidores, possibilitando mais agilidade na localização de dados. Mas, para o usuário doméstico de duas décadas atrás, a internet promovia basicamente entretenimento. De todo tipo, inclusive.

Era comum ter que apagar o histórico do navegador. Com a popularização de sites com conteúdo pornográfico, o prazer solitário tornou-se gratuito – o que anos mais tarde causaria um colapso nas publicações impressas do segmento, a exemplo da revista Playboy, que passou recentemente por um reprojeto e não traz mais nudez.

A sociabilidade com fins sexuais, hoje, está presente de forma marcante nos aplicativos de paquera, nos smartphones, a exemplo do Tinder. Mas, em 1999, o bate-papo do UOL ganhava força com uma sessão dedicada ao compartilhamento de imagens eróticas e dava corpo ao sexo virtual, uma nova forma de prazer compartilhado e mediado por kilobytes. Aliás, os chats, de forma geral, foram fortemente marcados por esta característica, muito embora casais fossem formados a cada dia por meio da ferramenta de comunicação.

“Conheci minha ex-mulher pelo mIRC, num canal da cidade. Até o primeiro encontro foram alguns meses, porque na realidade, por mais que a gente se falasse ao telefone, a gente não tinha webcam e nem velocidade de internet que suportasse isso. Então, podia ser que a gente não fosse como as fotos que trocamos”, conta o economista Leandro Vignoli, 37, que casou pela primeira vez aos 23 anos. “Minha namorada atual também conheci pela Internet, mas pelo Tinder”, complementa.

Na década de 90, a propósito, uma telenovela da Globo chamada ‘Explode Coração’ trazia a trama inusitada de uma comunidade cigana em que a protagonista namorava escondida um homem fora de sua comunidade, que conheceu por meio de um chat.

“Esta novela foi uma das primeiras difusoras do conceito de internet ao brasileiro. Era tudo absurdamente novo. Até a abertura dela tinha umas coisas diferentes, tecnologias diferentes. O brasileiro observava aquilo de uma forma muito descrente. A gente não tinha ideia de que as coisas iam ser como foram”, conta Nilson Xavier, pesquisador e autor do site Teledramaturgia e do Almanaque da Telenovela.

 

 

Outra grande mudança social foi a relação com o conteúdo protegido por direitos autorais, sobretudo músicas e vídeos (pornográficos, também). Atualmente, a indústria fonográfica e os estúdios de Hollywood já se rendeu aos aplicativos de streaming de vídeos e músicas, como o Netflix e o Spotify, mas a circulação de discos inteiros pirateados já fez com que a Polícia Federal prendesse muita gente.

Duas décadas de internet, a tecnologia revolucionária que muda tudo a cada minuto

Sites como Netflix são apontados como a solução da pirataria / Reprodução

Em 2007, a queda dos índices de audiência nos canais a cabo, por exemplo, se explicam pela facilidade de encontrar episódios de séries on-line, sem a necessidade de prender-se à programação. Surgiam os primeiros fóruns de criação e tradução de legendas, principalmente no Orkut. Anos anos, as metas de gravadoras foram redimensionadas diante do volume incrível de conteúdo pirateado. É claro que conteúdo protegido ainda circula, atualmente, por meio de programas de torrent, uma modalidade de download P2P, ou seja, de pessoa para pessoa. Mas, a realidade é que os serviços de streaming a preços populares já desmotivam a pirataria. Desta forma, a indústria de entretenimento precisou se reinventar.

As redes sociais, memes, e o ‘jeitinho brasileiro’

Chega a doer na alma imaginar os dias atuais sem Facebook e WhatsApp, a rede social e o comunicador, respectivamente, mais populares do momento, onde todo tipo de informação pode ser compartilhado. Mas, cerca de 10 anos atrás, o Orkut foi o responsável por uma nova e peculiar maneira de comunicação entre brasileiros.

Foi no site, a propósito, que se desenvolveu a pitoresca etiqueta brasileira de como agir nas redes sociais. Não pode adicionar sem mandar recado. É preciso comentar as fotos do amigo. Não pode conversar com outra mulher que não seja a namorada. E os memes, sim, os memes, que ganhavam corpo nos milhões de comunidades que foram criadas com o objetivo claro de… zoar na internet.

“O Orkut foi um divisor de águas, porque ele estava ali, traduzido para o português, bem na época em que a Internet ganhava força. Foi natural, portanto, que as pessoas passassem a utilizar o site da mesma maneira informal que se comunicavam nas ruas”, explica Marcos Bezerra, doutor em Ciência da Informação.

De tão especial, o comportamento dos brasileiro nas redes chamou a atenção das grandes corporações e assustou, também (como revela este gráfico). Popular basicamente no Brasil, o Orkut foi vendido para o Google e manteve-se na preferência do internauta brasileiro até meados de 2011, quando o Facebook superou o número de usuários. “O Google acabou desistindo do Orkut porque o Facebook era realmente imbatível, tinha ferramentas de interação muito melhores e mais atualizadas, mas dá para dizer que tudo começou ali, entre comunidades, recados e depoimentos”, diz Bezerra.

Duas décadas de internet, a tecnologia revolucionária que muda tudo a cada minuto

Comunidades do Orkut eram pura zoação / Reprodução

Atualmente, redes sociais mais específicas – a exemplo do Instagram (uma rede social só de fotos e vídeos), o Vine (de vídeos curtos), o Twitter (o serviço de microblog que conflagrou um modelo de comunicação em 140 caracteres) e, mais recentemente, o Snapchat – acompanham uma nova realidade em que os aparelhos de celular tornaram-se protagonistas na geração superconectada. O acesso a rede pelo smartphone já supera, no Brasil, a conexão por computador, já que as redes 3G e 4G possibilitam acesso de qualquer lugar.

Em duas décadas de internet, o Brasil mudou substancialmente sua forma de socializar. E mesmo com as polarizações ideológicas visíveis ao simples logar do Facebook, a tendência é que imirjamo-nos cada vez mais num esquema de sociedade baseado pela internet. É o tal do caminho sem volta, só não sabemos onde iremos parar.

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