Os critérios para a prova prática para escrivão do concurso da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul têm causado indignação entre os candidatos. Em edital publicado no Diário Oficial do Estado nesta terça-feira (15), a exigência é de que os concurseiros redijam um texto de 2 mil caracteres em até cinco minutos. Na prática, são 400 toques por minuto ou 6 toques por segundo.

A prova prática do concurso para escrivão da Polícia Federal pede que o candidato digite um texto de 2 mil toques em 10 minutos. O dobro do tempo exigido para o concurso da Civil.

Para os candidatos, a exigência é absurda e impraticável. “É desumano digitar isso tudo em tão pouco tempo, quase ninguém consegue. Além disso, o edital foi publicado hoje e a prova é domingo, teria que disponibilizar pelo menos sete dias para podermos nos preparar”, afirma a funcionária pública Elaine Espíndola Rodrigues. Aos 38 anos, Elaine conta que se preparou por mais de um ano para concorrer ao cargo de escrivã, que oferece remuneração inicial de R$ 3.888,26.

Os concurseiros afirmam que o critério de 2 mil caracteres em cinco minutos difere do padrão utilizado em concursos para escrivão e pretendem fazer uma denúncia ao Ministério Público. Uma das candidatas, que não quis se identificar, cita outros concursos públicos a modo de comparação.

O concurso para escrivão do Governo do Estado de Goiás, em 2017, exigia a digitação de um texto de 2 mil caracteres em 10 minutos, o dobro do tempo. Outro concurso citado foi o da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul em 2008, na qual a prova prática exigia a digitação de 2 mil caracteres em 15 minutos – o triplo do tempo. Em prova realizada neste ano, o TJ/SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) exigia dos candidatos a digitação de um texto de 1.800 caracteres em até 11 minutos.

A advogada Nair Carmona, de 34 anos, também é candidata ao concurso da Polícia Civil e se sente frustrada com a exigência do edital. Ela conta que consegue digitar os 2 mil caracteres em 10 minutos, o dobro do tempo exigido pelo concurso. “Passei meses me preparando exclusivamente para este concurso. Estou indignada, querem dos candidatos um desempenho praticamente impossível, nem concurso da Polícia Federal exigem isso”, reclama.

Ao ver o Diário Oficial nesta manhã, a advogada Giselly de Carvalho Melo, de 44 anos, conta que ficou perplexa. Ela se prepara para a prova há mais de um ano e achou que seria um engano. “Achei que estava errado pois faltando quatro dias para prova uma exigência dessa não faz sentido. Entramos em contato com os responsáveis pelo concurso e constatamos que não houve engano”, afirma.

O escrivão é o policial responsável por registrar os boletins de ocorrência e por registrar o depoimento das partes envolvidas em um inquérito policial.

A reportagem entrou em contato com a SAD para saber a posição do órgão, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.