O Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul pretende se pronunciar oficialmente sobre o edital publicado pela secretária estadual de Saúde, Beatriz Dobashi, e pelo secretário municipal de saúde de , , para ‘atualizar' a lista de membros da ABCG (Associação Beneficente Campo Grande – Santa Casa).

A diretoria aguarda mais informações sobre o assunto e deve convocar uma reunião para definir a postura do Sindicato que representa a classe médica sul-mato-grossense.

A publicação de um edital às vésperas de o PMDB perder a Prefeitura de Campo Grande nas últimas eleições é apontada como uma manobra para o grupo, ligado ao governador André Puccinelli, assumir o controle da Santa Casa após o final da intervenção judicial, prevista para abril de 2013.

Entre os médicos que trabalham no maior hospital de Mato Grosso do Sul o clima é de indignação com a suposta manobra. A Santa Casa possui um dos maiores orçamentos do Estado, e está sob controle dos secretários de saúde de MS e da Capital por força de decisão judicial.

Segundo os membros ‘originais' da ABCG, a publicação do edital, com data de 26 de outubro, tenta legalizar a “Atualização Cadastral da Lista de Associados”. O documento, assinado por Beatriz Figueiredo Dobashi, e Leandro Mazina Martins, reúne basicamente servidores públicos em cargos de comissão ligados ao grupo político do governador André Puccinelli e do prefeito Nelson Trad Filho.

Além de nomes conhecidos da atual administração do Governo do Estado, como a secretária de Administração, Thie Higushi Viegas dos Santos, o diretor da Funsau, Ronaldo Perches Queiroz, e o próprio governador André Puccinelli, causou estranheza o fato de que membros históricos da Associação, como o ex-governador Wilson Barbosa Martins, o ex-senador Valter Pereira, e até o atual presidente com eleição registrada em ata, Wilson Teslenco, não constam na lista montada pelos secretários.

A reportagem entrou em contato com alguns dos “associados” citados no Edital. Todos confirmaram que são servidores em cargos de comissão e que foram contactados para “colaborar” com a Santa Casa. Mas desconheciam que estavam se tornando associados da Entidade.

“Me ligaram mesmo perguntando se eu queria ajudar nesse negócio da Santa Casa, mas eu achei que era algo pontual, até uma ajuda financeira. Vou verificar porque meu nome está nesta lista”, estranhou um dos servidores que pediu para ter a identidade preservada.

O atual presidente da ABCG, Wilson Teslenco, diz que os secretários não possuem legitimidade jurídica para a manobra. “Nenhum dos dois secretários possui competência nem legitimidade para realizar qualquer ato em nome da Associação, a não ser para a gestão provisória da Santa Casa e sob ordem judicial”, explica.

Segundo ele, a publicação seria uma tentativa de manter o controle sobre o orçamento do hospital após o fim de 16 anos de mandatos consecutivos do PMDB em Campo Grande. O quadro de associados ‘atualizado' terá a missão de escolher a nova diretoria, que deve assumir o Hospital em abril do próximo ano.

Os dois secretários de Saúde, Dobashi e Mazina, administram atualmente a Santa Casa através de uma Junta Interventiva nomeada judicialmente. No entanto, as atribuições previstas na ação civil pública número 0076320-40.2007.8.12.0001 (001.07.076320-9) se referem apenas à gestão direta do hospital, e não ao controle da ABCG.

“O ato dos secretário é clara tentativa de criar um quadro paralelo de associados. É um desrespeito para os quase 200 membros que ao longo da história da Santa Casa dedicaram especial atenção ao hospital”, denuncia Teslenco.

Máfia de branco

Na Santa Casa, o clima é de incerteza e revolta. “Em 20 anos de Santa Casa, nunca imaginei que veria uma verdadeira quadrilha brigando descaradamente para manter o controle do caixa do hospital. É tudo uma questão financeira”, indigna-se um médico que trabalha a duas décadas no hospital.

“Aqui estão todos revoltados. Depois, vêm falar de máfia de branco, mas isso não existe. Aqui dentro é uma máfia familiar mesmo, com cinco ou seis lucrando. A maioria que veste branco está aqui para trabalhar”, desabafa. Assim como os demais entrevistados, o médico aceitou falar mediante a garantia de ter a indentidade preservada. “Eu preciso trabalhar”.

O prazo para impugnação da lista termina na próxima terça-feira. O atual presidente da ABCG já confirmou que tomará medidas judiciais para invaliar o Edital de Dobashi e Mazina.

Comissionados e Big Brother

Além da presença de servidores que ocupam cargos em comissão, grupos de parentes, e pessoas ligadas a vereadores e deputados do grupo político de Puccinelli, também se destaca na lista a forma como alguns nomes são citados, inclusive com erro de grafia.

A servidora Esterlita Fonseca Lelis, técnica de serviços organizacionais da Secretaria de Administração, por exemplo, é citada na lista como Esterlita Fonseca “Lela”. Ela teve prorrogada a portaria que a colocou à disposição da Secretaria de Gestão de Recursos Humanos, em janeiro de 2012.

Outro caso interessante é o do ex-big brother Dilson Walkares Rodovalho Filho, que, para se tornar associado, é citado no edital como “Dilson Madmax Walvares Rodovalho”. Além de ter o nome artístico estranhamente enxertado no documento oficial, ele também foi nomeado em cargo de comissão na Secretaria de Estado de Governo em abril de 2011.